07 de Novembro de 2025GPS DA ECONOMIA
GPS da Economia - Marta Sfredo
Isenção uniu fiéis aliados e ferozes opositores
O interesse em aprovar uma medida de alta popularidade, a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil mensais, superou de uma só vez uma pesada disputa regional e um possível agravamento do déficit público a 11 meses da eleição de outubro de 2026. Dá ideia do potencial de um ano eleitoral.
O relator do projeto no Senado, Renan Calheiros (MDB), havia apontado perda de arrecadação com mudanças feitas pelo relator do projeto na Câmara, Arthur Lira (PP), animado pela disputa em Alagoas. No dia da votação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu que, ao estender descontos para quem recebe até R$ 7,35 mil mensais, Lira causou desequilíbrio fiscal. Mas seria "residual", de "no máximo, R$ 5 bilhões".
Ao encaminhar a aprovação, Renan explicitou: - Tudo que não queremos é que retorne à Câmara. Diante do exíguo prazo (...), enviar a matéria de volta à casa iniciadora representa, sem dúvida, um risco fatal.
Se fosse alterado no Senado, precisaria voltar à Câmara, com risco de frustrar a ambição de garantir a isenção já em 2026.
Será preciso o remendo do remendo do remendo
Agora, é preciso sanar novo rombo criado pela aprovação por interesse eleitoral tanto do governo Lula quanto de deputados e senadores. Como foram votações unânimes, incluem dos mais fiéis governistas aos mais ferozes opositores.
O próprio Renan ofereceu um paliativo e uma justificativa para sua tentativa de borrar as impressões digitais do adversário: apresentou um "projeto autônomo" com a compensação que vai desembocar no aumento das alíquotas de tributação de bets e fintechs.
Essa proposta não é outra coisa senão a segunda parte do plano de Haddad para sanar outro rombo, o provocado pela recusa da Câmara de apreciar a medida provisória 13.003 que, por sua vez, compensava perda de parte do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Sim, é justiça tributária, porque também foi aprovada tributação sobre alta renda. Mas também é o remendo do remendo do remendo. Mostra que às vésperas de ano eleitoral, tudo se costura. Por todos. _
A bolsa chegou a tocar em 154 mil pontos, mas murchou a ponto de oscilar só 0,03% para cima com forte queda em Wall Street. A Nasdaq caiu 1,9%, em novo tremor relacionado à bolha de IA. O dólar teve recuo de 0,24%, para R$ 5,348.
A lógica econômica do fundo das florestas
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forest Forever Facility), que o Brasil lançou ontem em Belém, tem foco ambiental e lógica econômica. Um dos objetivos do mecanismo é substituir doações - como as feitas ao Fundo Amazônia - por investimentos, acompanhando a tendência das ferramentas com finalidade social e ambiental.
Embora o Brasil seja o impulsionador, a gestão será do Banco Mundial. Seu papel é o de um fiador para o lançamento dos títulos do fundo. Isso é necessário para aumentar a segurança e reduzir o risco dos papéis que vão originar os recursos. O modelo é chamado "blended finance", mistura recursos públicos e privados.
A ideia simplificada é captar aplicações com remuneração ao redor de 5% ao ano e emprestar com taxas de cerca de 8% ao ano. Dessa diferença é que viria o lucro para alimentar os projetos de proteção florestal.
O que o fundo se propõe a remunerar é outro conceito contemporâneo, o de "serviços florestais". Que serviço seria esse? Árvores vivas, como se aprende na escola, fazem fotossíntese, ou seja, transformam gás carbônico em oxigênio. O maior problema da humanidade, neste momento, é reduzir as emissões de CO2, responsáveis por boa parte da mudança no clima. Empresas pagam caro para neutralizar suas emissões, e o fundo seria uma das alternativas disponíveis.
Se a iniciativa tiver sucesso, poderia obter US$ 125 bilhões. Esse volume de recursos geraria cerca de US$ 3,4 bilhões por ano, que seriam então distribuídos entre os países beneficiários. Provando que têm florestas em pé, "trabalhando" para transformar dióxido de carbono em oxigênio, seriam remunerados.
Vendas gaúchas aos EUA caem 30%
As exportações do RS para os EUA caíram 30% em outubro, terceiro mês do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, conforme dados apresentados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
Os valores diminuíram de US$ 126,3 milhões para US$ 88,4 milhões, comparando o mês passado com igual período do ano anterior. Em setembro, as vendas do RS para os EUA haviam despencado 51,5%. No acumulado dos três meses de vigência do tarifaço, a redução nas vendas gaúchas para os americanos foi de 34%.
Os envios do Brasil para os EUA tiveram queda até maior, de 37,9% em outubro. Para a China, os embarques nacionais cresceram 33,4%, mas as exportações do RS para o país asiático diminuíram 16,4% em outubro, sempre em relação ao mesmo mês do ano passado, quando não havia sobretaxa. _
Produtos %
Motores e geradores 99,8
Armas e munições 79,8
Autopeças 41,6
Fonte: Ministério do Desenvolvimento - Mensagem cifrada do Copom faz mercado ansiar por ata
Embora tenha mantido todas as expressões que estavam na mira do mercado como passíveis de mudança para sinalização de um futuro corte no juro, o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) fez uma pequena mudança no discurso, uma espécie de mensagem cifrada que parte do mercado vê como preparação do caminho para o esperado início do ciclo de baixa da Selic.
Na prática, a estratégia dispersou ainda mais as apostas. Agora, o mercado aguarda com ansiedade a ata da reunião, que estará disponível na próxima terça-feira, para identificar novos sinais de cautela ou otimismo.
A pequena mudança que sustenta a esperança de redução precisa de um certo otimismo para ser interpretada como sinal de corte futuro, mas está lá: o Copom agora afirma que a atual estratégia "é suficiente" para garantir a convergência da inflação, enquanto antes "avaliava se" o atual nível da Selic seria adequado.
A dispersão das expectativas
Julio Barros, economista do Banco Daycoval
"O comitê manteve o tom duro indicando a necessidade de política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado. Ganha peso a probabilidade de que seja na reunião posterior de março, ou até mais para frente."
Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay
"O BC manteve o tom contracionista, mas com ligeira suavização na retórica em relação à reunião anterior. A mudança, embora sutil, indica maior confiança na efetividade da política monetária, sem sinalizar antecipação de cortes."
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