sexta-feira, 28 de novembro de 2025



28 DE NOVEMBRO DE 2025
CARPINEJAR

A polarização incurável

Sempre escutei a expressão terceira via, inclusive antes dos livros do italiano Norberto Bobbio. Mas nunca foi uma realidade no país. Em qualquer eleição que se aproxima, ela é mencionada por diferentes candidatos, que terminam atropelados pelos favoritos reincidentes.

Ciro Gomes, por exemplo, naufragou em quatro eleições presidenciais defendendo esse discurso. Nem seu plano de governo de renda mínima ou de anistia do SPC conseguiu mitigar a sua rejeição, que aumentou de pleito a pleito. Seu desespero para emplacar como alternativa pode ser verificado pela troca de siglas: já foram oito partidos até o momento, procurando um lugar em que fosse declarado candidato oficial - PDS (1982-1983), PMDB (1983-1990), PSDB (1990-1997), PPS (1997-2005), PSB (2005-2013), PROS (2013-2015), PDT (2015-2025) e novamente PSDB (2025). Há 27 anos busca a rampa do Planalto, mas parece subir uma escada rolante no sentido contrário. De 2011 em diante, não se habilitou a nenhum segundo cargo eletivo. Seu intento eterno vem apresentando uma nova carreira: presidenciável.

É a encarnação do fracasso da terceira via, uma rodovia de projetos em que se joga piche no chão e jamais se conclui a duplicação.

Sob esse viés, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva talvez seja o único governante brasileiro a permanecer no mesmo partido, a contar o início de sua trajetória como metalúrgico. Nunca virou a casaca. Ele é o PT, o PT é ele. Tanto que sofre com a dificuldade de indicar sucessores, numa antropofagia identitária.

Não sei de quanto tempo precisaremos para nos curar da polarização. Minha convicção é que não será agora, não será cedo.

É efeito colateral do nosso saber acadêmico recente. As primeiras universidades brasileiras foram criadas apenas no século 20: em 1912, surgiu a Fundação da Universidade Federal do Paraná (UFPR); em 1920, a Universidade do Rio de Janeiro; em 1934, a Universidade de São Paulo (USP). Ou seja, o conhecimento sistêmico acabou formalizado quatro séculos depois da chegada dos portugueses. Pagamos os juros da formação retardatária. Não saímos da creche da depuração teórica se nos compararmos ao México e sua Real y Pontificia Universidad de México, de 1551, ou ao Peru e sua Universidad Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM), também de 1551, em Lima.

Como esperar que nos aprofundemos em um debate se nossas pioneiras academias estão recém completando cem anos?

A radicalização está presente desde a Primeira República. Não é um movimento acirrado da atualidade entre petistas e bolsonaristas. Vive-se mais um capítulo da obsessão entre mocinhos e bandidos, do messianismo populista, do nosso atávico extremismo, que não permite enxergar o que vai além dos duelos caricaturais.

O Brasil jamais desfrutou de uma fuga de rota, de uma colisão entre duas frentes. A tensão se mostra intermitente, mudando os nomes das causas, dos culpados, dos salvadores da pátria:

Café com Leite (SP/MG) versus Dissidências regionais

Civilistas versus Hermistas

Tenentismo versus Oligarquias

Getulistas versus Antigetulistas

PTB versus PSD

UDN versus PTB/PSD

Arena versus MDB

Colloristas versus Caras-Pintadas

Reformistas neoliberais versus Desenvolvimentistas

PT versus PSDB

Petistas versus Bolsonaristas

O fogo cruzado somente faz vítimas. É um querendo derrotar o outro mais do que governar para todos.

Reduzimo-nos ao antagonismo de Sísifo, a uma guerra simbólica entre esquerda e direita. Somos passionais na política. Levamos tudo para o lado pessoal, inviabilizando a discussão de ideias de forma abstrata e evoluída. Somos igualmente personalistas, desmerecendo partidos e favorecendo nomes. Vota-se ainda "em alguém", não no que ele representa.

Necessitamos de mais princípios e menos torcidas. Enquanto isso prosperar, políticas públicas essenciais - economia, saúde, segurança, educação - continuarão secundárias. _

CARPINEJAR

Nenhum comentário: