26 de Novembro de 2025
MÁRIO CORSO
Temporalidade anacrônica
É preciso viver com consciência o tempo presente. Se você não vive a pleno um dado momento, ele poderá ficar pendente e, posteriormente, surgir em qualquer hora do futuro.
Imagine estar em uma manhã de terça-feira, precisando concentrar-se, e pinta um sextou. Como dizer para o chefe que não é sua culpa. Que estava na melhor boa vontade quando, do nada, caiu uma tardinha de sexta-feira no teu colo. Desconcerta ficar colorido num dia cinzento.
Não há produtividade que resista a pendências fortuitas. Semana passada, quarta-feira de tarde, estava trabalhando e tropecei num sábado. Baixou uma preguiça imensa, daquelas de deitar em rede. Trabalhei o resto do dia feito um caminhão movido a pedal.
Vocês podem pensar que é conversa de preguiçoso, que nada, os desajustes de temporalidade anacrônica acontecem em qualquer direção. Exemplo: está um domingo de sol lá fora, mas a cabeça não para de fazer a lista de tarefas da semana. O vivente quer relaxar, mas o espírito da segunda-feira já o amarrou com uma gravata no pescoço.
Sabe aquela ânsia que se sente, de que algo teria que ser feito, mas não sabe o quê? Trata-se de um Eco de Prazo. A tarefa já foi entregue, mas era tão premente, tão urgente, que uns grãos de prazo derramaram e colaram na sola do sapato.
Vocês já notaram como as férias grudam? Elas terminam e a impregnação segue por dias, é um jet lag existencial. O saldo de férias sai no tapa com a rotina e nós, no meio, apanhamos dos dois.
Ano passado, minha amiga Maiara achou um Natal em pleno abril. Foi estranho, deu presentes para todos e não ganhou nenhum. Por sua alegria aparentemente inexplicável, ganhou fama de bipolar.
O que mais as pessoas se queixam é da refeição fantasma. Aquele momento que não era para estar com fome, mas uma gula ancestral arrasta o sujeito para a geladeira. É o que dá declinar sobremesa para parecer educado.
Temos que aprender a conviver com esses soluços temporais. A vida é uma trama descosturada, um aglomerado de tempos embaralhados que se infiltram onde bem entendem. Como nossa alma está convencida de que o calendário é só uma sugestão, não se cobre tanto quando cacos de domingo iluminarem tua semana. _
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