25 de Novembro de 2025
NÍLSON SOUZA
Sábado-feira
A vida presta, especialmente nas manhãs ensolaradas de sábado na feira de produtos orgânicos do bairro Bom Fim, em Porto Alegre. José Bonifácio, o personagem histórico que dá nome à avenida, ficaria orgulhoso de ver o que se passa por lá - naturalista que era o nosso Patrono da Independência. O melhor da natureza humana transita entre as barracas improvisadas, na via fechada ao tráfego de veículos: casais com seus bebês e seus pets, jovens, idosos, gente de todas as tribos pacíficas do planeta, apreciadores de mate e conversa amistosa, vendedores e compradores de frutas, hortaliças, flores, sucos, pães, geleias e uma infinidade de alimentos saudáveis, cultivados e preparados com o carinho característico da gauchada da lavoura.
Gosto de caminhar sem pressa por todos os cantos daquele paraíso de diversidade e ecologia. Borges, o grande escritor argentino, disse que sempre imaginou o paraíso como uma espécie de biblioteca. Quem ama livros adora essa metáfora. Concordo em gênero e letras: livrarias e bibliotecas abrigam o universo inteiro e são refúgios de paz, de conhecimento e das melhores produções literárias do espírito humano. É nelas que a alma se alimenta. Mas o corpo também precisa de combustível renovável.
Por isso frequento com regularidade essa feira de mil atrativos. Compartilho um exemplo do último final de semana: em meio ao burburinho, percebe-se a voz suave de um cantor solitário que arranha sua guitarra sem receber muita atenção. Até que, por uma dessas magias dos sábados de primavera, aproxima-se dele um garotinho de quatro ou cinco anos que passeava com os pais e carregava sua guitarra de brinquedo. Como se tivesse ensaiado, o menino passa a acompanhar o cantador, simulando inclusive a coreografia do artista. Todos param para olhar. A música termina com aplausos entusiasmados dos feirantes e de seus clientes, surpreendidos pelo show inesperado.
Minha cidade - como dizia Erico Verissimo - tem uma orquestra sinfônica. E tem também, no simbólico Campo da Redenção, um brique de antiguidades, uma feira de delícias e um menino que canta e encanta com sua guitarra de plástico. A vida presta.
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