
25 de Novembro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo
Recuos de Trump exigem conta antes de ceder
Agora, sim, a retirada de tarifas nos Estados Unidos sobre produtos alimentícios brasileiros faz diferença, tanto para o Brasil quanto para o governo Trump, que enfrenta forte reprovação diante de alta de preços como café e carne. O que o governo americano fez até agora não são concessões ao Brasil no âmbito da negociação bilateral. São apenas novos recuos do atual ocupante da Casa Branca diante tiro no pé que foi o tarifaço.
Ao contrário do que Trump propagandeava, quem paga as altas alíquotas não são os países afetados. É o consumidor americano, porque o importador que banca o pagamento na prática repassa o custo extra para o preço final. O prejuízo para os sobretaxados vem da queda das exportações para os EUA.
A mera retirada do que o próprio Trump chamou de "tarifa recíproca" - 10% para quase todos os países - não resolvia o problema do Brasil, nem o dele. A importação americana de café e carne depende de produtos brasileiros, submetidos ao que ele chama de "tarifa punitiva" - tudo o que passa de 10%, no caso do Brasil, 40%.
Receita com tarifa cresceu 114%, mas...
Conforme dados do Tesouro dos EUA, no acumulado do ano até setembro, a receita com tarifas alcançou US$ 195 bilhões (R$ 1 trilhão, quase a metade do orçamento federal do Brasil, sem contar o juro da dívida). No mesmo período de nove meses de 2024, havia sido de US$ 77 bilhões. Mais do que dobrou, com alta de 114%.
Mas segue longe de resolver o problema orçamentário dos EUA. Lá, como aqui, o buraco é fundo: era de US$ 1,76 trilhão de janeiro a setembro do ano passado, declinou pouco, para US$ 1,63 trilhão em igual período de 2025.
Trocando trilhões em miúdos, o que Trump "conquistou" até agora com sua guerra comercial foi um aumento insuficiente da arrecadação, sem resolver o problema de fundo, o déficit fiscal dos EUA.
Até agora, não há favor ao Brasil, portanto não exige contrapartidas nacionais. Produtos industrializados não foram contemplados, mas também pesam na inflação americana. É bom calibrar os esforços quando enfim chegar a hora de fazer concessões: vai ser preciso fazer muita conta para saber se ceder de fato é interesse nacional. _
O dólar recuou apenas 0,11% ontem, mas foi o suficiente para fechar em R$ 5,395, abaixo do nível de R$ 5,40 ao qual havia voltado na sexta-feira, em pleno feriadão, sob efeito de sinais contrários ao corte de juro nos EUA.
Tênis da COP30 feito no RS vende 2 mil pares
Depois de vender 2 mil pares de tênis feitos de borracha natural e caroço de açaí na COP30, encerrada no sábado, a Seringô, empresa do Pará que tem parte de sua produção feita no RS, abrirá ponto físico em Belém no próximo dia 4. Os calçados da marca, feitos com látex de seringais do Pará, também foram usados pelos voluntários da conferência, mas o modelo oficial do evento não estava à venda.
A Seringô lançou sua loja virtual na COP30, e operou dois locais de venda em Belém, com o Banco do Brasil e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A parceria com o banco estatal será ampliada, e passará a oferecer seus produtos em ambiente digital para clientes da instituição. O novo estabelecimento físico ficará em uma agência bancária.
A empresa entrega para todo o Brasil, com calçados ecológicos a partir de R$ 520. O tênis da COP30 não está disponível para venda.
- Era um produto específico para os voluntários, mas teve uma busca enorme. Os dois produtos que temos hoje são o tênis feito de algodão orgânico e o produzido com tecido de juta (fibra natural) da Amazônia - diz o diretor da Seringô, Lauro Samonek.
Os calçados têm rastreabilidade certificada pela empresa suíça que fabrica a tinta para impressão de 90% das cédulas das moedas do mundo, incluindo dólar, euro e franco suíço, a Sicpa. Um selo com QR Code garante que o produto é original e permite que o consumidor acompanhe da extração do látex à confecção final. _
R$ 85,5 milhões do BNDES para ter
biometano no RS
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou ontem investimento de R$ 85,8 milhões na Bioo Investimentos e Participações, que tem unidade em Triunfo, na Região Carbonífera.
A companhia transforma resíduos orgânicos agroindustriais em biometano - um dos ativos mais atrativos em tempos de transição energética - e em outros produtos sustentáveis. O banco terá participação de 19,9% do capital social da Bioo. O aporte foi feito por meio do BNDES Participações (BNDESPar).
O investimento é realizado com o aporte adicional da Flying Rivers Capital, gestora especializada em investimentos climáticos. A operação apoia o desenvolvimento de duas novas centrais de tratamento integrado de resíduos em regiões com alta disponibilidade do insumo e demanda por energia renovável em alta.
A primeira unidade da Bioo, localizada em Triunfo, entrou em operação no segundo semestre de 2025 com o fornecimento de biometano para a Sulgás em contrato de longo prazo. A empresa também produz CO2 biogênico e biofertilizantes com base em resíduos agroindustriais. _
Risco de terceiro anúncio sem efeito prático de UE-Mercosul
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala na assinatura do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) no dia 20 de dezembro. Admite, porém, a hipótese de que pode ser o terceiro anúncio retumbante, mas sem efeito prático. É bom recuperar a frase completa:
- Possivelmente seja o maior acordo comercial do mundo. Depois que assinar, vai ter ainda muita tarefa para a gente poder começar a usufruir das benesses desse acordo, mas vai ser assinado. É um acordo que envolve quase 722 milhões de pessoas e US$ 22 trilhões de PIB.
Em bom português, pode significar apenas mais uma assinatura, como ocorreu em junho de 2019, no governo Bolsonaro, e em dezembro de 2024, no governo Lula. Seria o terceiro anúncio de acordo, com algum efeito político remanescente, mas a essa altura já um tanto desgastado pelo descrédito de sucessivas declarações formais sem efeitos reais.
É verdade que, desta vez, Donald Trump ajuda no maior interesse dos europeus em um avanço efetivo. O presidente dos EUA não só submeteu a UE a uma tarifa de 15% - alta para os cidadãos do bloco -, mas também a gastos extraordinários com defesa ao não travar a ofensiva expansionista do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
A Comissão Europeia, espécie de Poder Executivo da UE, comandada por Ursula von der Leyen, estabeleceu prazo até 20 de dezembro para obter o aval dos Estados-membros.
A tentativa é contornar a histórica oposição da França pela aprovação apenas da parte comercial do acordo, que permitiria a votação dos chefes de Estado dos 27 países-membros do bloco, no âmbito do Conselho Europeu. Não teria a parte de investimentos e de parceria político-estratégica. Uma "maioria qualificada" poderia ser obtida antes da cúpula do Mercosul, em 20 de dezembro, no Brasil. _
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