
Incêndio joga COP30 em cenário de indefinições
O incêndio que atingiu a área de decisões da conferência do clima, em Belém, jogou a COP30 em um cenário de grandes indefinições. O fogo teve início próximo ao pavilhão da East African Community, em uma das extremidades da área reservada às nações. A origem, segundo as primeiras avaliações, teria sido um curto-circuito em instalações elétricas.
O fogo foi controlado em seis minutos, segundo o governo, mas o choque e a desolação entre os participantes duraram bem mais. A energia elétrica foi cortada, e as labaredas provocaram um rombo na lona que cobre o pavilhão. O serviço médico da COP30 atendeu 21 pessoas, sendo 19 por inalação de fumaça. Na correria para abandonar o local, muitas pessoas deixaram no interior da Blue Zone itens pessoais como passaportes, muletas e computadores.
As cenas correram o mundo imediatamente, prejudicando a imagem do evento, menos de uma semana depois de a ONU ter alertado o Brasil sobre riscos à exposição elétrica nos pavilhões, no documento em que reclamara da falta de segurança, após a tentativa de invasão de manifestantes indígenas.
Diplomacia do vaivém
Às 15h28min, a ONU anunciou a devolução da Blue Zone às autoridades brasileiras. Na prática, a área deixou de ser uma zona internacional, para que bombeiros fizessem o rescaldo, e a perícia buscasse as causas do incêndio.
O fogo não atrapalha a negociação política em si, mas não ajuda. O diálogo foi paralisado e só deve ser retomado hoje.
O incêndio ocorreu no meio de um dia em que o mundo esperava um novo rascunho de documento final. As delegações já estavam frustradas com a demora e os impasses, em especial sobre a inclusão do mapa do caminho para o fim gradual do uso de combustíveis fósseis. A chamada "decisão de mutirão" não vinga, e a cena de ministros de Meio Ambiente indo e voltando de salas em busca de flexibilidade e possíveis pontos de convergência ganhou até um apelido entre ambientalistas: "shuttle diplomacy" (a diplomacia do vaivém). A poucas horas do fim, ainda é difícil entender como a COP30 pode ser encerrada. _
Em tempo
A responsável por erguer a estrutura é a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI). O contrato, sem licitação, custou R$ 480 milhões e já foram gastos R$ 324,6 milhões. A OEI, por sua vez, contratou a empresa DMDL, por R$ 182,6 milhões, para a construção da Blue Zone. A DMDL já recebeu R$ 112,9 milhões pelos serviços.
Depoimento, feito à coluna, pela designer gaúcha Sarah Ramos de Ávila, de Porto Alegre, que estava ao lado do local onde o fogo começou:
"Estava sentada no pavilhão de Cultura e Entretenimento, que é colado no pavilhão da Índia. Do nada, começou a piscar as luzes. Só que isso já tinha acontecido ontem (quarta-feira), e ninguém se preocupou muito. Daqui a pouco, começou a subir uma fumacinha. Começou a ficar mais forte e começaram a gritar para todo mundo sair. Demorei um pouco para processar. Começou a subir aquela labareda enorme, e eu saí. Fui correndo e falando que era fogo para as pessoas. Mas deu para ver que foi bem rápida a contenção por parte dos bombeiros."
Demanda por artesanato
Está difícil encontrar, na COP30, os produtos feitos por artesãos gaúchos. Isso porque estão entre os mais procurados no Brasil Biomarket, no pavilhão do Sebrae, a Green Zone. É o que atestam os vendedores.
Dois modelos de bolsas feitas a partir da arte da dressa (espécie de trança feita com palha de trigo) pelo Ateliê Mãos de Palha, de Pinto Bandeira, estão expostas no evento.
Foram selecionados pelo projeto Artesanato de Fibra RS para representar o Estado na COP ao lado dos colares de mesa em fibra de bananeira da artesã Manuela Rosa e um composto de parede decorativo em fibra de vime da Vimes Saccaro. Sucesso por aqui! _
A Jaguar Parade pelas ruas de Belém
Lembra da Cow Parade, as esculturas de vacas decoradas por artistas locais e distribuídas pelas cidades? Pois aqui em Belém você encontra a Jaguar Parade: plataforma que conecta arte, cultura e preservação de onças-pintadas. A Amazônia é o principal refúgio da espécie, abrigando cerca de 60% dos indivíduos estimados no país. Nas ruas e praças, você encontra dezenas de estátuas como esta da foto, registrada na Estação das Docas. Lindas!
Dom Jaime na conferência
O arcebispo metropolitano de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, está em Belém participando de eventos na COP30.
- A conferência tem relação com a criação, que é uma obra divina. Como cristãos, temos de cuidar e preservar o que nos foi confiado na criação. Os seres humanos precisam cuidar da vida - disse à coluna.
De Belém, segue para Bogotá, onde cumpre agendas de trabalho do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho. _
Greta não está no Brasil
Há alguns dias circula nas redes sociais que a ativista ambiental Greta Thunberg estaria em Belém para a COP30. Não é verdade. A notícia foi desmentida pela organização Fridays for Future.
Greta se tornou crítica das COPs, ao afirmar que as conferências se tornaram "festival de greenwashing do Norte Global" (que vende uma imagem verde que não corresponde às suas práticas reais). E que têm poucos compromissos concretos e que não se efetivam. _
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