terça-feira, 18 de novembro de 2025


18 de Novembro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Quem quer o sucesso e quem deseja o fracasso da COP30

Iniciou-se ontem a segunda semana da COP30. Esta é sempre a fase mais política, quando ministros retornam e os presidentes da mesa tentam destravar impasses. Na COP de Belém, o risco central é que o evento termine sem um sinal político claro de implementação - justamente o que o Brasil mais quer entregar.

A segunda semana é definida por três eixos: financiamento (ou seja $), que acaba sendo o gatilho para todos os outros acordos; adaptação, a marca que o Brasil quer deixar; e alguma sinalização sobre afastamento de combustíveis fósseis, que é onde a COP pode avançar ou naufragar simbolicamente.

Se o Brasil conseguir costurar financiamento mínimo, destravar o OGA (Objetivo Global de Adaptação) e preservar a linguagem de Dubai (afastar-se dos combustíveis fósseis), a COP30 termina com entrega política suficiente para ser chamada de sucesso. Como, individualmente, cada país acaba sendo mais fraco, é comum a formação de grupos. _

Como se articulam e seus interesses - Brasil

Preside a COP30 e é mediador entre blocos. Tem buscado manter uma posição de árbitro - ou seja, neutralidade para garantir credibilidade internacional. Precisa mostrar equilíbrio, capacidade técnica e escuta. Ao mesmo tempo, busca impor, nos bastidores, seu foco na adaptação como prioridade, com meta de cem indicadores, principalmente após episódios catastróficos como a enchente no RS.

G77 + CHINA

É o maior bloco de países em desenvolvimento (135). Quer mais financiamento climático, mas deseja indicadores de adaptação voluntários. Rejeita obrigações sem dinheiro. Aponta a responsabilidade histórica dos países ricos e defende que o caminho para o fim do uso de combustíveis fósseis deve ser financiado.

União Europeia

Normalmente, é o bloco com maior ambição climática, mas resiste a pagar mais - em especial, em contexto de recessão, crise energética e guerra entre Rússia e Ucrânia. Quer dividir responsabilidade com China e países emergentes. Prefere poucos indicadores de adaptação, porém claros e aplicáveis. Defende eliminação acelerada dos combustíveis fósseis. Alega que China, Índia e petromonarquias do Golfo também devem pagar a conta.

Países africanos

É um bloco que tem ocupado cada vez mais espaço nas COPs. O continente vai sediar a COP32 (na Etiópia, em 2027). Mantém pressão forte por financiamento por parte dos ricos para adaptação, mas vem buscando atrasar acordos sobre indexadores - sem dinheiro, diz que não tem como se adaptar. A África é a região menos emissora e mais vulnerável a eventos extremos. Países que dependem do petróleo, como Nigéria e Angola, são mais conservadores em fósseis.

Países-ilhas

São as pequenas nações do Pacífico, sob risco de desaparecerem com a elevação do mar. Exigem acordo imediato sobre adaptação e financiamento (dependem totalmente de dinheiro externo). Querem metas claras e aplicáveis. Também exigem eliminação rápida dos combustíveis fósseis.

High Ambition Coalition

Criada pelas Ilhas Marshall, reúne países-ilhas, UE, Chile, Colômbia e Ruanda. É uma espécie de bloco progressista da COP, empurrando a ambição climática para cima. Exige alto financiamento climático, adaptação acelerada e eliminação rápida dos combustíveis fósseis. Costuma pressionar China, Índia e países do Golfo.

Arábia Saudita

Maior potência produtora e exportadora de petróleo do Oriente Médio, busca bloquear as negociações nas COPs. Rejeita novas obrigações financeiras e resiste a qualquer frase sobre afastamento dos combustíveis fósseis ou o phase-out (suspensão do uso).

Umbrella Group

São países ricos, fora da UE - normalmente incluem os EUA, mas, com Donald Trump no poder, obviamente, os americanos não estão neste debate. Estão sob o guarda-chuva, Reino Unido, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Noruega e outros. São conservadores no financiamento e resistem a novos compromissos porque estão envolvidos, de forma geral, em crises fiscais e elevação de gastos com defesa, aqueles ligados com a Otan.

Like-Minded Developing Countries

Bloco duro contra metas ambiciosas. Estão aqui China, Índia, Egito, Indonésia, Bolívia, Arábia Saudita e outros. São contrários a novas obrigações financeiras para emergentes, conservadores em indicadores e se opõem a acelerar a transição energética. O motivo: alta dependência de petróleo, carvão e gás. Argumentam que desenvolvimento vem antes do clima.

Acordo Mercosul-União Europeia no mês que vem

- O Brasil tem sempre defendido multilateralismo e o livre-comércio, seguindo as regras da OMC. O Brasil tem reagido a possíveis protecionismos. Foi assinado há dois anos Mercosul-Singapura. Este ano, foi assinado Mercosul-Efta (European Free Trade Association) - Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein. E deve assinar no mês que vem Mercosul-União Europeia, o maior acordo do mundo.

Conforme Alckmin, o tratado será um exemplo de que é possível, mesmo em um mundo com aumento de protecionismos.

Ele disse ainda que a estratégia está dando certo, uma vez que as exportações brasileiras cresceram 9,1% em outubro. _

De mala e cuia - Estratégia do Brasil

O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, afirmou ontem que as partes concordaram em dividir o debate em dois pacotes de acordo: o primeiro envolveria os temas paralelos - e normalmente mais polêmicos, que entravam as conferências: financiamento, metas climáticas mais ambiciosas, medidas comerciais unilaterais e relatórios de transparência. Também seriam negociados itens que tenham relação com esses quatro temas polêmicos, como adaptação climática ou a transição justa. Este pacote seria fechado até o meio da semana, possivelmente amanhã.

O outro pacote, menos polêmico, envolve todos os demais itens da COP até sexta-feira. _

INFORME ESPECIAL

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