terça-feira, 25 de novembro de 2025


 
25 de Novembro de 2025
OPINIÃO RBS

Descompasso climático

Em meio aos acontecimentos políticos e judiciais que sacudiram o país no fim de semana, o desfecho da COP30, em Belém (PA), acabou ofuscado. O resultado da cúpula, no entanto, merece exame por tratar de tema essencial à humanidade. As mudanças climáticas e os eventos extremos não são uma hipótese para o futuro. São um dado do presente, como mostraram a enchente de 2024 no Estado, o tornado que devastou Rio Bonito do Iguaçu (PR) no dia 7 deste mês, às vésperas da conferência, e o granizo destruidor em Erechim, no norte gaúcho, no domingo, com uma força que moradores disseram nunca terem testemunhado.

Os sinais da emergência climática, porém, ainda não são capazes de sensibilizar todos os países para a ação efetiva, como demonstra o documento final da COP30, aprovado no sábado. Para chegar ao consenso possível, foi preciso excluir pontos nevrálgicos, diante de resistência tenaz de nações que são grandes produtoras de petróleo. Nem menções superficiais sobre a transição energética sobreviveram. O chamado "mapa do caminho" pretendido pelo Brasil, indicando um percurso minimamente plausível para um abandono paulatino e realista dos combustíveis fósseis, ficou de fora do texto. O termo "combustíveis fósseis", aliás, nem sequer é citado, indicativo inquestionável de um resultado muito aquém do esperado.

Frustrou também a ausência de qualquer roteiro para deter o desmatamento. Ainda mais para um evento na Amazônia, maior floresta tropical do mundo e ameaçada pela derrubada massiva de árvores, mesmo que agora em ritmo menor. Os combustíveis fósseis e o desflorestamento são duas das principais fontes de emissão de gases causadores de efeito estufa.

Sem passos efetivos na mitigação, os avanços na parte da adaptação climática foram celebrados. Foi adotado um conjunto de indicadores para medir o preparo dos países. É um tópico relevante, mas mostra maior facilidade de chegar a um acordo sobre preparação para a fúria do clima do que para evitar o agravamento do aquecimento global. Foi bem recebido, ainda, o compromisso de triplicar os recursos para adaptação até 2035, embora persista a fragilidade de apontar de onde sairá o dinheiro.

No balanço da COP30, o sentimento de desapontamento predomina. Mas o resultado não difere em grande medida das conferências anteriores, em que se discutiu muito, mas se tergiversou ou fugiu de pautas centrais e as medidas práticas permaneceram como promessas. É o reflexo dos interesses conflitantes, da relevância econômica dos combustíveis fósseis e da crise do multilateralismo. A expectativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que essa fosse a edição da implementação, pondo fim a negociações intermináveis, restou fracassada.

A presidência brasileira da COP30, no entanto, se comprometeu a elaborar planos para levar a discussão sobre combustíveis fósseis e desmatamento para a conferência de 2026, na Turquia. A despeito dos obstáculos, é compromisso histórico manter a mobilização para ainda tentar evitar que a temperatura do planeta se eleve acima do limite de 1,5ºC até o fim do século, como prevê o Acordo de Paris. Até aqui, há descompasso entre a urgência e os passos concretos. _

Nenhum comentário: