
O xadrez geopolítico da sede da COP
Enquanto Austrália e Turquia disputam a sede da próxima COP, a 31ª, o consenso entre os países africanos facilitou as coisas para a definição da COP32. Será em Adis Abeba, capital da Etiópia. A definição foi formalizada ontem.
Mas você sabe como é feita a escolha da sede da conferência? A ONU divide seus Estados-membros em cinco grupos regionais para garantir equilíbrio político e geográfico: África, Ásia-Pacífico, Europa Oriental, América Latina e Caribe (GRULAC) e Europa Ocidental e Outros (WEOG).
Cada grupo, quando chega a sua vez, decide internamente qual país vai apresentar a candidatura. Na COP32, caberá à África de novo - a última vez daquele grupo foi a COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito. Depois, foi em Dubai (Ásia-Pacífico), em Baku (Europa Oriental) e Belém (América Latina e Caribe). A próxima COP, imediatamente após Belém, cabe ao grupo Europa Ocidental e Outros.
Tanto Turquia quanto Austrália enviaram proposta ao Secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCC), sediado em Bonn (Alemanha). Aliás, se o grupo não chegar a um acordo interno, a COP31 vai ficar mesmo por lá, na antiga capital da Alemanha Ocidental. É padrão.
Tanto Austrália quanto Turquia buscam protagonismo geopolítico. A primeira quer sediar a COP31 em Adelaide, em parceria com os países insulares do Pacífico (Fiji, Samoa, Tuvalu). Justo, uma vez que essas nações-ilha são as que mais sofrem os efeitos das mudanças climáticas - e podem, inclusive, desaparecer. A Austrália por sua vez tem a Grande Barreira de Corais, ameaçada pelo aquecimento do planeta. A proposta tem forte apelo moral e político. O governo australiano de Anthony Albanese também tenta reconstruir sua imagem climática após anos de políticas negacionistas sob Scott Morrison.
Sediar a COP seria um gesto de reaproximação diplomática com os vizinhos do Pacífico e de reafirmação da liderança regional, em contraposição à influência da China.
Já a Turquia apresentou Antalya como cidade-sede, com o argumento de que o país faz ponte entre Europa, Ásia e Oriente Médio. O governo de Recep Tayyip Erdogan busca reabilitar sua imagem internacional e atrair investimentos verdes, apresentando-se como um centro de diálogo entre Ocidente e Oriente. Aliás, a Turquia tem projetado sua imagem de líder regional, inclusive com louvor, apesar do autoritarismo do regime, tendo sido fundamental para o cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
A Turquia também aposta em sua infraestrutura turística e diplomática robusta. Já sediou grandes conferências internacionais, como o G20 de 2015 e a Cúpula Humanitária da ONU. Contudo, enfrenta críticas por não cumprir metas de descarbonização e manter alto consumo de carvão, o que enfraquece sua credibilidade climática. _
Hotel que recebe autoridades em Belém
A maioria das autoridades que participam da COP30 está hospedada na Vila COP, uma espécie de hotel construído para receber as delegações do evento. A estrutura foi inaugurada oficialmente pelo governo do Pará na última semana. O espaço fica próximo à Blue Zone e ao Hangar e ocupa uma área de 19 mil metros quadrados.
A Vila COP é composta por seis blocos. Cinco deles são destinados à hospedagem, com 405 suítes equipadas e modernas, e um bloco é voltado para serviços. Este último concentra o saguão de entrada, depósito de bagagens, escritórios, salas de reunião, academia, vestiários, quiosques de artesanato e souvenirs, além de áreas de conveniência, restaurante e um bar-café.
Fruto de uma parceria entre o governo do Pará e o governo federal, o investimento total foi de R$ 194,9 milhões, com recursos da Itaipu Binacional. Após a conferência, o complexo será transformado em um centro administrativo estadual.
O governador Eduardo Leite, por exemplo, está hospedado em uma das unidades. Ele chegou ontem em Belém e fica até hoje. _
A comitiva paralela dos Estados Unidos
Ainda na segunda-feira, durante um evento em São Paulo, ele criticou a decisão de Trump de não comparecer à COP e afirmou que se trata de uma guerra ideológica:
- Estou aqui (no Brasil) por conta da ausência de qualquer liderança do governo dos EUA, é um vácuo. É de deixar o queixo caído. É uma guerra ideológica em nível federal. São interesses, siga o dinheiro. Estamos dobrando a aposta na estupidez nos Estados Unidos.
Ontem, o democrata chegou em Belém (PA) para participar da COP30. Foi recepcionado pelo governador do Pará, Hélder Barbalho, tomou kombucha de açaí e provou cupuaçu liofilizado.
A missão conta com redes de ação ambiental dos EUA: America Is All In, Climate Mayors e U.S. Climate Alliance. Além disso, o grupo inclui o governador de Wisconsin, Tony Evers, a governadora do Novo México, Michelle Lujan Grisham, a ex-diretora da Agência de Proteção Ambiental (EPA) e ex-conselheira climática da Casa Branca Gina McCarthy e a prefeita de Phoenix, Kate Gallego, vice-presidente do C40 e presidente da Climate Mayors. Participam ainda 35 prefeitos de 26 Estados. _
Do Fóssil do Dia para o Raio do Dia
A atenção dos participantes da COP30 voltava-se ontem para a divulgação do primeiro "homenageado" com o Fóssil do Dia, título tradicional que ironiza países ou instituições que obstruem avanços nas conferências do clima da ONU.
Surpreendentemente, nesta edição, a Climate Action Network International, organização responsável pela premiação, optou por conceder o "Raio do Dia" (Ray of the Day), um reconhecimento a contribuições positivas para a agenda ambiental. A honraria foi conferida ao G77+China, bloco que reúne 134 países em desenvolvimento.
Segundo a organização, o grupo foi premiado por integrar a justiça e a equidade em todos os níveis de implementação, fortalecimento do diálogo social e pela garantia de que as pessoas, e não os lucros, permaneçam no centro da ação climática.
Embora o Fóssil do Dia não seja premiação oficial e não integre a programação da COP, é concedida diariamente durante as conferências a países ou organizações que tiveram, naquele dia, a pior atuação na defesa de pautas de ação climática. _
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