segunda-feira, 24 de novembro de 2025


24 de Novembro de 2025
INFORME ESPECIAL

Sucesso ou fracasso? O legado da COP30

A redução do uso de combustíveis fósseis nem estava no mandato da COP30, mas foi tão alardeada que o tema se tornou a régua do sucesso ou fracasso do fórum de Belém. Em 14 dias, financiamento climático e adaptação entraram em segundo plano na agenda. Aliás, as COP, já recheadas de vocabulário próprio, foram ganhando novas expressões ("mapa do caminho", "decisão de mutirão") e alcunhas ("a COP da verdade", a "COP da implementação"). Mas nenhum termo é mais imponente do que a "COP da Amazônia".

Em se tratando de um terreno tão fértil, o que ocorreu na Belém extramuros, fora dos salões acarpetados e refrigerados (parcialmente) da Blue Zone, tornou-se relevante: a desigualdade brasileira ganhou holofotes, mas também a diversidade cultural. Na primeira COP em um país democrático desde Glasgow (2021), a sociedade civil, finalmente, viveu a conferência: eram indígenas lado a lado com empresários na Green Zone; lideranças munduruku de mãos dadas com o presidente da COP, imersões na floresta, mergulhos no rio, almoços de tacacá, noites de aparelhagem e carimbó.

O Brasil se mostrou por inteiro naquilo que tem de melhor e... de pior. Os preços exorbitantes da hospedagem pré-COP migraram para dentro da conferência: água a R$ 25, café a R$ 20 e almoço a R$ 170. Houve tentativa de invasão da Blue Zone, seguranças feridos, ar-condicionado de menos, puxão de orelha da ONU e um incêndio inédito, que provocou correria, interrompeu por seis horas as negociações e causou constrangimento brasileiro mundo afora.

Além de diplomatas, a COP reúne ambientalistas, cientistas, empresários, governadores, prefeitos, deputados e senadores - e, como eu nunca havia visto antes, uma população fazendo fila para entrar na Green Zone, a área da sociedade civil.

Uma COP, claro, é também sobre dinheiro. A diminuição do PIB per capita global devido ao aumento de 1,5°C na temperatura média do planeta pode ser de 8% até o final do século, em comparação com um cenário sem aquecimento adicional. O mundo financeiro descobriu o risco. O mercado de carbono está aí, é oportunidade de transição. O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), uma alternativa de transformar doação em investimento.

O agronegócio brasileiro, com sua Agrizone, inaugurou um modelo que veio para ficar e é capaz de ser exportado para Turquia, Etiópia (próximas sedes da COP) e além. Se tornou uma vitrine do setor e parte de uma solução maior. O Rio Grande do Sul, esquadrinhado com lupa pelo mundo por seus eventos extremos, começa a ser observado também pelo que fez desde as enchentes de 2023 e 2024.

O primeiro rascunho de texto final exibiu a ambição brasileira de excluir os fósseis, mas enfrentou a oposição dos produtores de petróleo, a ponto de, no segundo esboço, já não incluir menção ao tema - o que provocou revolta de União Europeia e Colômbia. A presidência brasileira, exercida pelo embaixador André Corrêa do Lago, gigante não só na altura, mas na altivez, herdeiro da melhor tradição da Casa de Rio Branco, precisou se dobrar ao realismo da geopolítica.

Como grandes expectativas foram geradas, a exclusão do tema significou derrota. E, como a quem mais é dado mais é cobrado, nada sobre desmatamento, em uma COP na Amazônia, é fracasso. Indicadores de adaptação caíram de cem para 60, e há menção a triplicar o financiamento climático, só não se diz como. Houve avanços em temas indígenas e de gênero.

Então, o que fica da conferência é só um texto frio de 58 páginas quase inteligível para não iniciados? Claro que não. Além de tudo o que listei aqui, houve a gentileza do povo belenense, que recebeu milhares de pessoas com sorriso no rosto. Exemplo ao mundo.

A COP30 uniu a Amazônia de 2025 ao Rio de 1992. Fechou-se um ciclo. Mas é hora de abrir-se outro. Urgentemente.

Rodrigo Lopes

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