
O que falta ao Brasil é uma terceira via
A prisão de Jair Bolsonaro não é apenas uma oportunidade para a direita se reposicionar. O que falta ao Brasil é uma terceira via.
As pesquisas Quaest vêm demonstrando, de forma seriada, uma fissura no cenário político brasileiro: há um espaço crescente para uma alternativa, de esquerda, centro ou direita, em 2026.
Segundo levantamento de 13 de novembro, 24% dos eleitores afirmam que o melhor resultado seria a vitória de um candidato que não estivesse ligado nem a Lula nem a Bolsonaro. É a maior fatia isolada entre todas as alternativas apresentadas, superando inclusive a preferência expressa por Lula (23%) e por um eventual retorno de Bolsonaro (15%).
Há uma fadiga profunda do eleitorado com a polarização que marca a política nacional desde 2018. Se somarmos os 24% que desejam uma alternativa ao lulismo e ao bolsonarismo aos 17% que preferem alguém de fora da política tradicional, surge um bloco robusto, de mais de 40% dos brasileiros, que demonstra vontade de romper com o binarismo que domina o debate público há anos. É um contingente expressivo, capaz de redefinir a corrida presidencial - desde que exista um nome capaz de seduzi-lo.
Busca por uma alternativa
Aí entramos em outra seara. É muito difícil furar a bolha. A política brasileira parece organizada de tal modo que qualquer tentativa de se apresentar como alternativa é imediatamente tragada por um dos polos.
O governador Eduardo Leite, por exemplo, tenta se posicionar nesse campo desde 2021, mas enfrenta resistências tanto da base bolsonarista - que o associa ao "sistema" - quanto de setores da esquerda - que rejeitam sua agenda liberal. Sem falar das rivalidades internas de seu partido, o PSD.
Outros nomes que já tentaram ou tentam ocupar esse espaço encontram barreiras semelhantes: Simone Tebet, com forte apelo técnico, acabou absorvida pelo governo; Rodrigo Pacheco transita bem entre grupos, mas carece de densidade eleitoral; Marina Silva tem capital moral, mas enfrenta desgaste acumulado; o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, tenta se projetar nacionalmente, mas esbarra na limitação regional e na disputa com a direita bolsonarista. No fim, o sistema político empurra todos para um dos dois polos - e o eleitor fica sem alternativa clara.
A política brasileira continua prisioneira de Lula e Bolsonaro, mesmo que haja sinais de exaustão. Há um medo, no ar, de romper a lógica binária e arriscar um movimento independente - seja à direita, seja à esquerda. A direita tradicional não consegue se desconectar da figura de Bolsonaro, temendo a perda do apoio orgânico de suas bases. A esquerda não consegue se desvincular de Lula, receosa de desafiar a hegemonia. Assim, os dois polos seguem alimentando-se mutuamente: a existência de um reforça a necessidade política do outro.
Enquanto isso, perdem-se debates sobre economia, sustentabilidade, saúde, segurança, inovação, educação. _
Trump e os seus ventríloquos sauditas
Donald Trump e os EUA não estavam na COP30, em Belém, obviamente. Nem precisariam estar.
A Arábia Saudita atuou como ventríloquo americano. Obviamente, o país do Golfo tem seus interesses domésticos.
Os sauditas são os maiores exportadores de petróleo do mundo. Logo, já costumam boicotar qualquer acordo nas COPs que envolvam eliminação de combustíveis fósseis - o que voltou a ocorrer em Belém. Mas, cada vez mais, com apoio da Casa Branca.
Na semana que antecedeu o final da COP30, Donald Trump se encontrou com o príncipe carniceiro Mohamed bin Salman, recebido com carpete vermelho em Washington - para quem não lembra, a CIA informou, há sete anos, ao mundo que MBS, suas iniciais, fora responsável por ordenar o assassinato do jornalista saudita exilado Jamal Khashoggi.
O recado, entre outros, foi reforçado: "Drill, baby, drill!" ("Perfure, baby, perfure"). _
"O Brasil desafiou Trump e venceu", destaca o NYT
O The New York Times, um dos jornais mais influentes do mundo, publicou uma análise do ex-correspondente do veículo no país intitulada "O Brasil desafiou Trump e venceu".
A reportagem de ontem, assinado por Jack Nicas, que atualmente é chefe da sucursal do NYT na Cidade do México, analisa os recentes desdobramentos envolvendo Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Logo no início, o texto recupera a resposta que Trump deu a jornalistas ao ser informado sobre a prisão preventiva no sábado:
- Que pena - disse, sem fazer qualquer outro comentário.
Segundo o correspondente, a tentativa de Trump de intervir no Brasil "foi uma manobra extraordinária para influenciar o caso jurídico mais importante de um aliado em décadas, usando algumas das ferramentas mais poderosas à sua disposição. Mas as instituições brasileiras o ignoraram completamente. A aparente capitulação do Sr. Trump demonstra que seus esforços foram basicamente em vão".
O material ainda ressaltou que, após a condenação de Bolsonaro, autoridades americanas chegaram a prometer retaliações, o que nunca se concretizou.
"Lula - um líder da esquerda latino-americana - saiu do conflito com Washington ainda mais forte politicamente do que quando entrou", afirmou o jornal. _
Estátua de Jango na Capital
Às vésperas do cinquentenário de sua morte, o ex-presidente João Goulart terá uma estátua em sua homenagem em Porto Alegre. A inauguração do monumento está marcada para 5 de dezembro, no Trecho 1 da Orla do Guaíba. A estátua será instalada na confluência das avenidas Edvaldo Pereira Paiva e Aureliano de Figueredo Pinto, em frente à Rótula das Cuias. A obra é de autoria do artista Otto Dumovich, mesmo escultor responsável pela estátua do ex-governador Leonel Brizola, ao lado do Palácio Piratini.
A iniciativa partiu da Fundação Caminho da Soberania (FCS), presidida pelo ex-deputado federal Vieira da Cunha. Os recursos para a estátua e para a terraplenagem do local foram arrecadados pela própria fundação. Representando a família, estará presente no evento o neto de Jango, Christopher Goulart, também da FCS.
Parceria binacional
Uma parceria binacional entre Bagé e o departamento de Rivera, no lado uruguaio, vai promover serviços de saúde na comunidade de Serrilhada (ou "Cerrillada", para os uruguaios). A localidade rural se situa diretamente na fronteira entre os dois países.
A iniciativa prevê que, semanalmente durante um mês, sejam oferecidos atendimentos médicos, odontológicos e de orientação em saúde, com as duas cidades alternando a responsabilidade pelos procedimentos.
- Quem convive na fronteira sabe que no seu cotidiano não tem barreiras. Vivemos como se fosse um só território - afirmou o prefeito de Bagé, Luiz Fernando Mainardi. _
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