quarta-feira, 5 de novembro de 2025



Uma reforma gradual no sistema financeiro

Entre medidas para dar mais segurança depois da infiltração do crime organizado na Faria Lima e viabilizar programa federal de reforma de casas, o sistema financeiro passa por fase de transformação. Poucos períodos anteriores acumularam tantas e tão variadas mudanças de regras, algumas das quais eram definidoras das características desse setor.

As mais recentes envolvem nova camada de proteção depois de sinais de fragilidade nos sistemas financeiro e de pagamentos. Um dos ajustes é o aumento da exigência de capital mínimo e patrimônio líquido de instituições reguladas. É uma tentativa de deixar fraudes ao menos mais caras, desestimulando o uso do mecanismo.

As empresas financeiras que não se enquadrarem, avisou o diretor de fiscalização do Banco Central (BC), Ailton de Aquino, precisarão fazer uma "saída organizada", por meio de aumento de capital ou negociar venda ou incorporação a outro grupo.

Há menos de dois meses, o BC já havia apertado regras após ataques, dos quais o maior foi à C&M Software, com estimativa de desvio de até R$ 1 bilhão. Na época, antecipou de 2029 para maio de 2026 a exigência de regularização de fintechs não autorizadas, toleradas até então para incentivar a inovação e democratizar o acesso bancário.

O BC determinou ainda o encerramento obrigatório das chamadas "contas-bolsão" - um dos instrumentos expostos pela operação Carbono Oculto - se a instituição identificar uso para movimentações em nome de terceiros com o objetivo de ocultar ou substituir obrigações financeiras de pessoas ou empresas.

Na mão inversa, o BC afrouxou o chamado depósito compulsório para viabilizar o programa Reforma Casa Brasil. Os bancos eram obrigados a recolher 20% dos depósitos da poupança ao BC e destinar 65% a crédito imobiliário. Agora, o compulsório cai para 15% e a destinação obrigatória sobe a 70%. A partir de 2027, será reduzido em 1,5 ponto percentual ao ano até zerar em 10 anos. _

A redução do depósito compulsório era reivindicação antiga do setor financeiro, porque eleva o "spread", que é a diferença entre o preço líquido do dinheiro, a Selic, e o custo dos financiamentos. Mas zerar não estava na agenda.

Indústria demite, mas tem crescimento

A coluna relatou a perda de 6,2 mil empregos industriais no Estado entre agosto e setembro, os dois primeiros meses do tarifaço dos Estados Unidos. Conforme dados do boletim conjuntural do Departamento de Economia e Estatística (DEE), mesmo assim o setor teve crescimento entre julho (1,7%) e agosto (2,9%), em comparação com os meses anteriores. Em julho deste ano, a alíquota de 50% não estava em vigor.

As informações estão na edição de outubro de 2025 do levantamento do órgão vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do Estado, o mesmo que calcula o PIB gaúcho. O boletim é uma espécie de termômetro da situação da economia gaúcha entre os trimestres.

Na comparação com o mesmo período de 2024, a indústria acumula queda de 1,8% de junho a agosto. Os desempenhos mais negativos são de veículos automotores, derivados de petróleo e produtos químicos. Embora a indústria gaúcha dependa mais de exportações aos EUA do que a média nacional, tem menor grau de exposição: 12% no país como um todo, 9% no Estado.

As vendas no comércio tiveram duas altas seguidas em relação aos meses anteriores, 0,9% em julho e 2% em agosto, interrompendo sequência de baixas. Na comparação com igual período de 2024, as vendas caíram 4,2%, com maior retração em veículos, material de construção e móveis e eletrodomésticos.

O setor de serviços teve altas em julho (0,2%) e em agosto (1,2%). _

Líderes

Entidade que reúne executivos e empresários, o Lide-RS realiza no próximo dia 12 a edição regional do Prêmio Líderes do Brasil 2025, uma das principais premiações multissetoriais do país. O presidente e CEO da Randoncorp, Daniel Randon, será eleito Liderança Empresarial do Ano. Maria Anselmi, criadora de uma das marcas mais influentes do setor têxtil brasileiro, que leva seu sobrenome, será a premiada pelo Lide Mulher.

Doação de 2 mil livros a escolas

Cinco escolas e bibliotecas públicas do Estado receberão acervos com 400 títulos cada. No total, a doação chega a 2 mil livros direcionados a unidades afetadas pela enchente de 2024. O projeto Bibliotecas RS faz parte do guarda-chuva de iniciativas Nossa Biblioteca, criado pela empresa de atividades socioculturais Clic.

Os acervos entregues têm apoio de BRDE, Ferramentas Gedore, Ferramentas Gerais e Calçados Beira Rio. Outros 18 mil livros estão à espera de verba para chegar aos alunos. _

Dólar sobe com temor de bolha de inteligência artificial

O dólar fechou ontem em alta de 0,7%, para R$ 5,399, em meio a alertas de executivos de Wall Street, símbolo do mercado financeiro de Nova York, sobre uma provável queda nas ações de empresas americanas, especialmente as da área de inteligência artificial (IA).

A discussão aberta sobre o tema derrubou bolsas pelo mundo, inclusive em Nova York. A de tecnologia, a Nasdaq, perdeu quase 2%. O Ibovespa passou boa parte do dia no negativo, mas fechou com oscilação positiva de 0,1% e garantiu o sétimo recorde seguido.

A reação forte decorre da percepção de que, quando o assunto é debatido em público por profissionais do mercado financeiro, pode ser maior ou estar mais perto do que se imaginava. O debate sobre o risco de perdas no mercado de capitais, focadas no segmento de tecnologia, surgiu em um encontro em Hong Kong, com participação de americanos. Ken Griffin, CEO da Citadel, lembrou que há maior irracionalidade nos extremos do mercado, os de intensa alta e os de forte queda, afirmando que o atual é "de alta bem avançada". Para esses profissionais, seria uma correção saudável, não um estouro de bolha.

- Significa apenas que as coisas sobem e depois recuam para que as pessoas possam reavaliar - disse David Solomon, CEO do Goldman Sachs.

Alertas sobre o risco de estouro da bolha da IA - não simples correção - já foram feitos por Banco da Inglaterra, Fundo Monetário Internacional (FMI) e até Jeff Bezos, fundador da Amazon. Os temores de estouro de bolha ou "correção saudável" ocorrem no momento em que ao menos três empresas - Nvidia, Microsoft e Apple - têm valor de mercado (valor das ações multiplicado pela quantidade) acima de US$ 4 trilhões, cifra comparável apenas a PIBs de países. Só estão acima desse patamar as duas maiores economias, EUA e China. _

GPS DA ECONOMIA 

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