segunda-feira, 3 de novembro de 2025


03 de Novembro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e diretor-executivo no Brasil do Climate Policy Initiative (CPI)

"Seriam US$ 25 bilhões ao ano para o Brasil ", diz economista sobre restauro florestal

Juliano Assunção atuava na prosperidade das famílias e das empresas até que, em 2011, Tom Heller, professor de Stanford, propôs uma organização para contribuir com a agenda de clima, com doação do bilionário George Soros. A união entre desenvolvimento e clima o levou a mecanismo para acelerar a redução de emissões e financiar a regeneração de florestas.

Qual a sua expectativa para a COP30 cercada de desafios?

Na agenda de clima, tendo a não focar em questões conjunturais. E os desafios do momento não causam grandes transtornos nas emissões, que continuam crescendo. Ainda não conseguimos desenvolver estrutura capaz de conter as emissões na escala necessária. Na COP, o processo negocial avança em ritmo incompatível com a mudança do clima. Há outros círculos de política pública mais efetivos. Minha expectativa é de que seja possível, usando a capacidade da nossa diplomacia, chamar a atenção de que algo precisa ser feito de forma acelerada. A ideia da COP é de implementar, achar espaço de diálogo para a ideia de que algo muito diferente precisa ser feito.

Por que "muito diferente"?

Com o aumento de emissões, há consequências gravíssimas. Precisamos pensar em adaptar e criar estruturas para lidar com perdas e danos. O Brasil está bem posicionado no papel das florestas como capacidade de remoção de carbono em escala. Dado o atraso no freio à mudança do clima, precisamos acelerar o que está em nossas mãos. A COP30 pode ter resultado melhor do que o esperado. Estou otimista.

O que faz o CPI?

Nosso trabalho começou com políticas de combate ao desmatamento, que, a partir de 2004, provocaram redução expressiva na taxa na Amazônia, responsáveis por parte enorme das emissões. Migrou para agricultura e tópicos de infraestrutura. Temos abordagem econômica, com viés muito forte de desenvolvimento. E nos disciplinamos para que todo o trabalho em parceria alcance alguém que possa dar consequência, independentemente da cor do governo eleito.

Como funciona o Mecanismo de Reversão de Desmatamento, lançado na pré-COP?

Na COP28, os países deliberaram que, até 2030, o desmatamento não deve ser apenas estancado, mas revertido. Há três questões relacionadas, mas diferentes. Existe a floresta em pé, com quase 1,3 bilhão de hectares em 90 países. Armazena quase 600 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a um terço das emissões globais históricas acumuladas. É um tesouro. Depois, vem o desmatamento. Não precisamos de mais área para alimentar as pessoas. Desmatamos mais de 10 milhões de hectares por ano na última década, o que não faz sentido. O terceiro elemento é a oportunidade.

Qual seria?

Desmatamos 180 milhões de hectares de 2001 até agora no mundo. Mas estimamos que seja possível capturar 49 bilhões de toneladas de carbono nos 180 milhões de hectares desmatados. Cada país tem uma configuração, mas no Brasil há tudo: muita floresta em pé, muito desmatamento e muito a restaurar. Brinco que somos o Michael Phelps da agenda de floresta, ganhamos em todas as categorias.

É um formato novo?

As estruturas que temos hoje são o REDD+, associado à redução do desmatamento. É o modelo do Fundo Amazônia do Brasil. Para floresta em pé, o Brasil está com a proposta do Tropical Forest Forever Facility (TFFF, Fundo Florestas Tropicais para Sempre), com ideia de pagar US$ 4 por hectare de floresta em pé por ano. Há lacuna para restauro florestal em escala. O Mecanismo de Reversão do Desmatamento tem foco em crédito de restauro de carbono. A cada ano, computa a quantidade capturada pelo restauro florestal, deduz o emitido por desmatamento e atividade agrícola, e a jurisdição (Estado, país) é remunerada pela contribuição líquida. Teria um comprador que pode ser uma empresa de um país de alta renda, e um comprador que seria um país, como o Brasil, ou uma província na Indonésia.

Há estimativa de valor?

Estamos usando como referência US$ 50 por tonelada de carbono capturada na base líquida. É um preço baixo, o mercado europeu de emissões negocia entre US$ 80 e US$ 90. As florestas tropicais do mundo têm a possibilidade de capturar algo como 2 bilhões de toneladas de carbono por ano nos primeiros cinco anos. Estamos falando de US$ 100 bilhões, uma quantidade de dinheiro extraordinária. No caso do Brasil, respondemos por cerca de um quarto do potencial. Seriam US$ 25 bilhões para o Brasil. É muito transformador.

Em que tempo?

Na nossa estimativa, é muito rápido. O produto está pronto. Precisamos de uma demanda que não é óbvia, um mundo preocupado com o clima que aceite pagar preços decentes pelos serviços associados. Há 5 milhões de hectares na Amazônia que estão em regeneração há cerca de seis anos, por estimativa do Imazon, sem nenhuma política pública. 

GPS DA ECONOMIA

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