
Testes para a diplomacia
Será uma semana eletrizante para a diplomacia brasileira. Na quinta e na sexta-feira ocorre a Cúpula dos Líderes, em Belém, no Pará, quando o presidente Lula irá receber chefes de governo e de Estado para a COP30. Será, na prática, uma pré-abertura da conferência, que terá início no dia 10. O que Lula disser dará o tom da COP, e o mundo olha com desconfiança, como de costume, para um país anfitrião de uma conferência sobre mudanças climáticas que adota ações contraditórias, como a recente liberação para exploração de petróleo na Margem Equatorial do Amazonas.
Lula terá reuniões bilaterais com os líderes, mas estará também de olho no cenário à oeste. As ameaças de Donald Trump à Venezuela e a iminência de um ataque ao país sul-americano, negado pelo presidente depois de dois jornais noticiarem a iminência da ação militar, pôs a diplomacia e as Forças Armadas brasileiras em alerta. Nos dias 9 e 10, será realizada em Santa Marta, na Colômbia, uma cúpula de chefes de Estado e governo da União Europeia (UE) e da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac). Lula quer estar em Belém no dia 10, para a abertura oficial da COP, mas não descarta ir à Colômbia dada a emergência.
Em meio a tudo isso, a qualquer momento negociadores brasileiros podem ser chamados a Washington para a continuidade do debate sobre as tarifas. O pelotão de frente brasileiro será composto pelo vice Geraldo Alckmin, pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad e pelo chanceler Mauro Vieira. Não se sabe dia ou horário em que a fumaça sairá do alto da Casa Branca, mas será em breve, muito provavelmente durante a COP. _
Imersão nas Missões
Imagine fazer uma imersão na missão jesuítica de São Miguel dos séculos 17 e 18, período em que o aldeamento chegou a reunir cerca de 7 mil indígenas. Isso é possível graças ao trabalho do professor Renato Martins Júnior, do Colégio Anchieta, de Porto Alegre. Por meio de realidade virtual, os estudantes têm acesso a uma experiência guiada em primeira pessoa.
A narrativa é conduzida por uma personagem adolescente que apresenta construções, costumes e léxico guarani, com linguagem acessível ao público infantil.
Renato recebeu o prêmio de melhor dissertação no Simpósio sobre Realidade Virtual e Aumentada (SVR) 2025, realizado em Salvador (BA). O estudo, desenvolvido no mestrado em Computação Aplicada da Unisinos, criou a experiência em VR para ensinar a história das Missões Jesuíticas no RS a partir do cotidiano dos estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental. _
Roberto Rodrigues - Enviado do agronegócio à COP30 - "A agricultura é a solução para fome, energia, desigualdade e clima"
O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, nomeado enviado especial do Brasil para a COP30, acredita que o agronegócio brasileiro está pronto para protagonizar uma virada global: mostrar ao mundo que a agricultura tropical pode ser parte da solução climática. À frente da missão de representar o setor na conferência, ele leva um documento que resume 50 anos de transformação do agro nacional.
Acredito que sim. Inteiro? Não. O agro brasileiro é bastante plural e diversificado. Tem de tudo: desde o melhor produtor rural até o menos capacitado. Então, não se pode fazer uma afirmação genérica e única. De maneira geral, sim, está preparado. Tanto que estamos levando para a COP um documento bastante amplo para convencer o mundo. Esse documento tem duas partes. A primeira é a história do agro brasileiro, contando como foi possível sair de um país que há 50 anos importava 30% do que comíamos para exportar para 190 países. A ênfase desse processo todo é ciência, tecnologia e inovação.
E a segunda parte: o Brasil está se oferecendo para que toda essa tecnologia possa ser replicada no cinturão tropical do planeta, considerando, evidentemente, as diversidades. E, para isso, são centrais financiamento e flexibilização das regras de comércio.
Não só a Agrizone. Sou enviado especial da agricultura. Tenho de levar esse documento, que vou apresentar segunda-feira (hoje) para o André Corrêa do Lago (presidente da COP30). Essas reuniões são bonitas, mas não acontece nada de prático. Eu estou levando uma proposta muito ampla, que se caracteriza como o estado da arte da política mundial. As instituições perderam o protagonismo. O mundo ficou sem regras definidas, planetárias, que indiquem direções. E cada um faz o que quer. O Putin invadir a Ucrânia, e fica por isso mesmo.
O outro faz uma guerra lá no Oriente Médio, fica por isso mesmo. Aqui a Venezuela, aquela eleição fajuta... Então, o mundo está em um processo de erosão da democracia e da paz universal. E o Trump complicou. Nesse cenário brutal de incerteza, uma coisa é certa: temos de comer. O mundo é atropelado hoje por quatro modernos cavaleiros do apocalipse, que são segurança alimentar, transição energética justa, desigualdade social e mudanças climáticas.
Esses quatro temas estão ligados entre si. E quem vai resolvê-los é o cinturão tropical do planeta. A América Latina, a África e a Ásia. Porque têm terra para crescer. Mas o único país que montou um projeto tecnicamente sustentável é o Brasil. Garantindo a única coisa que é fundamental para o mundo inteiro, que é a paz. Se você estiver com fome, não tem paz. Quero convencer o mundo de que a agricultura tropical é a solução para esses quatro fantasmas, e o Brasil é o líder nessa solução.
Era cético. Nunca fui a uma COP anterior. É pouco implementadora. No papel é bonito. Mas cadê o financiamento? Mas o André Corrêa do Lago é meu amigo há mais de 30 anos. Ele é um cara competente, sério. Então, ele falou: "Roberto, é o contrário. Eu quero empreender. Por isso, eu preciso de você". É por isso que ele conta comigo. E eu topei.
Eu acho que sim. Sabe por quê? Por causa do código florestal, que deu uma trombada no agro brasileiro, nos ambientalistas e nos produtores rurais. Ninguém ficou contente. O maior mérito do código florestal é que ninguém gostou. Sinal de que é equilibrado. Só que o produtor aceitou. O ambientalista, não. O produtor aceitou e se adaptou, se adequou. E a questão ambiental passou a ser parte da agenda agrícola brasileira. "Ah, mas tem gente que não gosta". Tem, tem bandido de todo lado. Agora, o nosso problema é o concorrente, a Europa, que usa os defeitos do Brasil contra o agro. A ilegalidade. Nós somos a favor de desmatamento ilegal? Não. Eu odeio desmatamento ilegal. Mas não é a agricultura que faz. É bandido que faz. Só que o concorrente diz: "eles desmatam a Amazônia para fazer carne". E aí, o nosso produto fica boicotado no mercado. Mesmo assim, nós exportamos para 190 países. _
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