domingo, 17 de setembro de 2023


Solidão e amizade em nossos dias

Hoje em dia todo mundo anda conectado com tudo e todos e, mesmo assim, muitas vezes fica sozinho, deixando de dar ou receber afetos. As pessoas têm medo de entrar em contato até com os vizinhos, pensando que podem ser envolver em situações complicadas e arriscadas. É esse o contexto de Um cão no meio do mundo (Todavia, 240 páginas, R$ 69,90), romance mais recente de Isabela Figueiredo, escritora moçambicana radicada em Portugal, que traz uma narrativa pungente sobre o nascimento de uma amizade surgida e cultivada a partir da solidão profunda de duas pessoas típicas dos dias atuais.
Isabela Figueiredo nasceu em Lourenço Marques, atual Maputo, em 1963 e em 1975 mudou-se para Portugal. Professora e escritora, autora de Caderno de Memórias Coloniais e A gorda, publicados no Brasil pela Todavia, ela é uma das vozes mais destacadas da literatura portuguesa contemporânea.
Um cão no meio do mundo traz o protagonista José Viriato, que resolveu não dar prosseguimento aos estudos universitários, embora de família esclarecida. Não come carne, vive só, acompanhado por cães. Sua atividade para sua singela sobrevivência é recolher despojos da sociedade de consumo: objetos, móveis, roupas, livros e outras coisas que vão para o lixo das grandes cidades. Ele aproveita a atividade para refletir sobre as pessoas, o mundo contemporâneo e os ciclos da vida.
Quando Beatriz, uma vizinha de prédio, entra na sua vida, sua rotina minuciosamente construída entre as ruas de Lisboa e seu pequeno apartamento na periferia é modificada. Beatriz mantinha-se reclusa, discreta, envolta num folclore sombrio sobre sua vida pessoal e era conhecida como a 'Matadora', por sua aparência assustadora . A vida dos dois solitários altera-se radicalmente e muita coisa começa a acontecer .
O estilo da envolvente narrativa é vívido, esbanja simpatia, como nas obras anteriores de Isabela, e melancolia e bom humor estão também bem presentes na hábil construção dos personagens, cenários e diálogos, que são a cara do mundo de hoje.
 lançamentos
Ponchos e Chiripás (V.S. Zattera, 226 páginas, R$ 200,00), 30º livro da consagrada pesquisadora caxiense Vera Stedile Zattera, com lindas fotos e ilustrações, percorre a valiosa história dos ponchos e chiripás na América, presentes em mais de 3 mil CTGs dentro e fora do Brasil. Obra que nasce clássica e referencial.
Direito, Legislação e Liberdade - A democracia em um país verdadeiramente livre (Avis Rara, 224 páginas, R$ 54,90, tradução de Carlos Szlak), do grande professor, escritor e pensador F. A. Hayek, Nobel de Economia de 1974, concentra o debate em esclarecer o que é,de fato, uma democracia.
Quer ser meu pai? (Edição do Autor, 209 páginas, R$ 49,90), de Alberto Dal Molin Filho, é emocionante narrativa de um menino que queria ter um pai e, num gesto inocente, mudou a vida do estranho que cruzou o seu caminho e de sua mãe. Linda história, que mostra a importância de nos conectarmos com os outros. 

Míriam Leitão, Amazônia & Cia.

As questões ambientais, particularmente as ligadas à Amazônia, têm ocupado a pauta das preocupações mundiais destas últimas décadas. Nosso José Lutzenberger, já em 1976, publicou o clássico Manifesto Ecológico Brasileiro: O Fim do Futuro, que consolidou sua liderança em nível nacional no movimento ecológico.
Devastações florestais, aquecimento global, poluição, questões energéticas e outros tópicos relevantes estão diariamente no noticiário. Felizmente, as novas gerações estão atentas a tudo e nos dão esperança de um planeta mais cuidado e saudável.
Amazônia na Encruzilhada (Editora Intrínseca, 464 páginas, R$ 99,90 e E-book 49,90), da premiada e consagrada escritora e jornalista Míriam Leitão, que tem por subtítulo O poder da destruição e o tempo das possibilidades, revela, com base em dados e pesquisas consistentes, os bastidores da luta do Brasil contra o desmatamento.
A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, maior reservatório de água doce, maior patrimônio de biodiversidade do planeta e o mais completo ecossistema da Terra, um bioma que é, em si, uma coleção de biomas. O gigantismo da Amazônia coloca a todos que a observam e estudam numa posição de humildade. O planeta depende muito da Amazônia para ser habitável.
Míriam já visitou a Amazônia pelos menos dez vezes e, como repórter e comentarista da área econômica, viu nos últimos anos a questão ambiental e climática invadir a lógica econômica, e a economia chegar, aos poucos, aos debates ambientais, quando essas conexões ainda não eram tão evidentes.
Em Amazônia na Encruzilhada, Míriam, depois de anos de estudos, pesquisas e entrevistas com os principais especialistas, mostra que, depois de dez anos de sucesso no combate ao desmatamento, o Brasil regrediu de forma preocupante neste aspecto. Míriam mostra como o crime opera na Amazônia e como as forças policiais, o Ministério Público e os órgãos ambientais reagem a essas agressões. Sem dúvida os avanços nos satélites e nas comunicações nos permitem ver melhor a Amazônia.
Na sua alentada obra, Míriam dá voz a líderes indígenas, cientistas, economistas, ambientalistas, produtores rurais (grandes e pequenos) e reflete: "No encontro do capital com a floresta, da ciência com os indígenas, do ambientalismo com os produtores, há muita novidade, há muita vida. E foi isso que eu fui buscar para relatar aos leitores."
O trabalho rigoroso de apuração, o treino de Míriam no jornalismo econômico e a capacidade literária dela mostram na obra a urgência da proteção da floresta, em tempos de mudança climática e os riscos que o Brasil e o mundo correm com sua destruição.
É bom lembrar que o mercado agroflorestal mundial movimentou, entre 2017 e 2019, 176, 6 bilhões de dólares ao ano no mundo e o Brasil, vergonhosamente, representou apenas 0,17% desse montante. Míriam diz que faltam políticas públicas para mudar o cenário. 

A propósito...

Com realismo, Míriam aponta que a preservação da Amazônia só é possível se aliada a atividades econômicas capazes de gerar emprego e renda, como, por exemplo, produção sustentável de alimentos típicos da região, como açaí, cacau, castanha e mandioca, entre muitos outros. Elencando os dilemas para os caminhos da Amazônia, a autora traz muitas possibilidades para as abundantes riquezas de lá, em benefício de todos, e alerta que ainda temos tempo - não muito, talvez - para entender, de vez, que com a floresta viva e produtiva poderemos viver mais e melhor.

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