O novo destino da major Ana
Ela foi a primeira mulher a comandar a Cadeia Pública de Porto Alegre (antigo Presídio Central). Major Ana Maria Hermes (foto) tornou-se, também, a última PM a exercer o cargo, até a troca da guarda da prisão, em 31 de agosto. Agora, ocupa nova função no Comando Rodoviário da Brigada Militar.
Formada em Direito, a oficial tornou-se diretora da casa prisional mais temida do Brasil em julho de 2021. Assumiu a posição de chefia com o sonho de estimular a profissionalização dos presos. Fez mais do que isso.Além de encerrar a missão com 300 apenados diplomados, a oficial recebeu uma tarefa ainda mais desafiadora: coube a ela coordenar a transferência de centenas de presidiários para viabilizar as obras de renovação da decrépita cadeia, que já foi considerada a pior do país. Era preciso deslocar - com segurança e sem margem para erros - cerca de 3 mil homens.
- Sabia que, se desse errado, diriam que uma mulher nunca deveria estar naquela função, por isso, não medi esforços. E nós conseguimos. Na base do diálogo, com transparência e ética, sem qualquer intervenção de força - conta ela, orgulhosa.
Assim foi, até o último minuto, quando a BM deu lugar à Polícia Penal do Estado, após 28 anos de trabalho no local.
- Me senti realizada. Acredito que eu e meus colegas honramos a farda - diz a oficial.
Agora, major Ana tem uma nova missão, igualmente difícil: ela passou a integrar a equipe que atua na prevenção a acidentes nas rodovias estaduais. E tem mais um sonho: reduzir a carnificina no trânsito.
O melhor e o pior do ser humano
É curioso como tragédias têm o poder de despertar o melhor e o pior nas pessoas. Nos momentos difíceis, emerge o sentimento mais nobre e também o mais mesquinho. A capacidade de repensar a vida diante de uma catástrofe vem junto da insensibilidade de quem só pensa na melhor selfie.
A onda de solidariedade que se espalhou pelas ruas cobertas de lama no Vale do Taquari levou apoio e conforto aos atingidos. Voluntários chegaram aos borbotões, em pleno feriadão, movidos pelo desejo genuíno de ajudar. Quem pôde, ficou.
Nas primeiras horas após a inundação, entidades, empresas, órgãos públicos, veículos de comunicação e cidadãos comuns uniram forças para arrecadar donativos, em uma mobilização exemplar.
Mas sempre tem o outro lado.
Além dos voluntários, chegaram os curiosos, aos montes, inconvenientes, atrapalhando o trabalho de reconstrução. Gente sem noção, que a minha amiga Giane Guerra definiu como "turistas de enchente". Muitos foram à região apenas para olhar a destruição, em uma espécie de deleite mórbido - de dentro do carro, com os vidros fechados e o ar condicionado ligado. Para quê? Tirar fotos e postar nas redes sociais. Para ganhar "likes". Triste.
Houve, também, quem espalhasse desinformação, as famosas "fake news", de todos os tipos: envolvendo política (sim, de novo) e sugerindo conspirações e causas obscuras para a tragédia, porque, afinal, "aquecimento global não existe" (contém ironia). Isso sem falar naqueles que resolveram vender produtos de primeira necessidade a preços superfaturados, a velha turma que não perde a oportunidade de tirar vantagem de tudo, até do drama alheio.
Um evento extremo como o que atingiu o Vale do Taquari deveria ser suficiente para desencadear uma reflexão coletiva, sobre nós mesmos, a humanidade, sobre o que de fato é importante ou deveria ser. Quantas vezes nos pegamos reclamando de tudo e de tão pouco? Uma tragédia como essa deveria servir para olharmos mais para os lados e menos para o próprio umbigo.
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