sábado, 23 de setembro de 2023


23/09/2023 - 09h00min
Claudia Tajes

Tire o seu pinto do meu caminho

Aviso: só apareçam se forem chamados. Algum desconhecido já te mostrou o pinto em um lugar público – o ônibus, a rua, um bar?

Pode perguntar para qualquer mulher, e desde já meus parabéns para as que responderem que não. Algum desconhecido já te mostrou o pinto em um lugar público – o ônibus, a rua, um bar? Fiz esse Datapinto com amigas de diferentes idades. Só uma disse que mostrar, o sujeito não mostrou. Em compensação, pegou a mão dela à força e botou lá, na zona da desgraça.

Homens que não se imaginam fazendo uma bandalheira dessas, isso acontece. E não existe um tipo físico ou uma idade específica para se sofrer um abuso assim – ainda que, obviamente, mulheres jovens sejam sempre mais assediadas. Assim como o tarado não escolhe hora e nem local para mostrar o pinto, ele também não escolhe a vítima. É mais uma questão de oportunidade.

Esses dias escrevi sobre o beijo que o ex-presidente da Federação Espanhola de Futebol tascou na jogadora Jenni Hermoso e fui chamada de mimizenta em vários comentários e e-mails. Todos de homens. Não sei se reagiriam do mesmo jeito se o beijo forçado fosse em alguém da família deles. Mas espero que mesmo eles tenham achado absurda a cena dos estudantes de Medicina de duas universidades particulares, Santo Amaro e São Camilo, com os pintos de fora durante um campeonato de vôlei feminino no interior de São Paulo.

A imagem é deplorável. Do nada, um bando de otários com as calças arriadas entra na quadra e dá uma volta olímpica. Um que outro ainda conserva a cueca durante a presepada, mas a maioria sai abanando o troço e achando muita graça naquilo.

Parece que a coisa é um hábito local entre torcidas rivais: uns mostram o pinto, outros respondem mostrando a bunda – meninas inclusive. Se é uma tradição do interior paulista, credo. Prefiro mil vezes o nosso Interior, com as feiras do livro e as festas das frutas.

Uma parte dos sem calça ainda teria simulado uma masturbação coletiva na arquibancada. Existem vídeos, mas os acusados negam, dizem que era apenas uma coreografia. Uma estranha coreografia em que a mão se mexe o tempo todo, mas OK. Observemos o devido processo legal, não se condena ninguém sem provas. 

Todo mundo mostrando a mão para ver se nasceu pelo.

A volta olímpica dos pintos foi em abril, mas as imagens vazaram só agora. Embora o barulho nas redes, a Santo Amaro e a São Camilo não deram muita importância ao caso, pelo menos até a entrega desta coluna. Acho que deviam. A ética que a gente espera de um médico não tem que começar na universidade?

Felizmente, a cultura de achar que o pinto pode tudo está mudando. 

Já passou do tempo. Uma prova são as denúncias que têm revelado tantos abusadores, alguns que a gente olha e diz: mas o seu Fulano, tão distinto, quem diria? Quando eu era guria, cansei de descer do ônibus porque algum sujeito tinha encostado ou mostrado o pinto – não sei o que era pior. Hoje em dia, quem sai do ônibus é o tarado, e direto para a delegacia.

Uns chamam de mimimi. Para as mulheres, é respeito.

Recadinhos. As bibliotecas do Interior precisam de livros para repor o que foi perdido nas enchentes. Livros de literatura em bom estado podem – devem! - ser doados na nossa linda Biblioteca Pública da Rua Riachuelo e nas demais bibliotecas municipais e estaduais. 

E para não perder: de 28 a 30 de setembro, o Esquenta Porto Verão Alegre apresenta atrações como Anelis Assumpção, Maitê Proença, Alice Caymmi, Marcos Breda e Winnie Bueno. Informações no instagram.com/portoveraoalegre.

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