20 DE SETEMBRO DE 2023
CARPINEJAR
O riso desentope o coração
Alguns ouvintes ficam assustados com a minha gargalhada antes das 8h, no programa Gaúcha Hoje, com Antônio Carlos Macedo. Até já ouvi comentários dizendo que ela é forçada. Mal sabem que ela é assim todo dia. Minha alegria é fácil e farta. Acordo feliz, já a 100 km/h. Devo ter engolido uma gaita na infância.
Minha esposa também sofre com a algazarra matinal. Pede para reduzir um pouco o meu volume, para deixá-la despertar com calma, em paz, no ponto morto.
Agora ninguém me segura mais. Nem os pitos de Beatriz. Fiquei sabendo de pesquisa inédita e surpreendente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que descobriu que rir pode ajudar o sistema cardiovascular. Os resultados foram apresentados no mais recente congresso da European Society of Cardiology, realizado em Amsterdã.
O bom humor parece proteger o coração. O experimento se deu da seguinte forma: os voluntários que assistiram a tramas engraçadas obtiveram melhora no sistema cardiovascular com sua crise de risos, diferentemente do grupo que acompanhou documentários com temáticas neutras.
A avaliação envolveu a participação de 26 adultos com diagnóstico de doença arterial coronariana - causada pelo acúmulo de placas de gordura nas paredes das artérias - por três meses, 24 sessões, todas com as reações filmadas e medições.
Ao longo das 12 semanas, a plateia da comédia demonstrou aumento de performance de 10,5% no seu fôlego em teste na esteira.
Além disso, confirmaram-se tendências já apontadas em estudos científicos anteriores: uma risada genuína é capaz de gerar um gasto calórico de 10 kcal. Cada exibição na sala desencadeou 30 risadas dessa natureza. Faça as contas: foram 300 kcal num único filme de 30 minutos. Já é um começo de dieta. Os nutricionistas e nutrólogos vão enlouquecer com os dados.
De acordo com o médico Ricardo Stein, um dos idealizadores do monitoramento, "a terapia do riso otimiza a resistência física de cardiopatas isquêmicos".
É uma ressurreição a partir da espontaneidade do contentamento. Quando você ri, improvisa, relaxa, exorciza os problemas, esvazia o corpo de suas preocupações e obsessões. É como se entrasse numa paz de espírito nirvânica, sem sofrer com o controle do amanhã. O tempo desaparece por um instante do horizonte mental.
Talvez não exista nenhuma maneira de estar mais presente. Ao chorar, você se lembra do passado. Vem a culpa de tudo o que você não fez ou fez de errado. O arrependimento é uma regressão perigosa, de retração dos nervos e músculos. Encontra-se numa posição de defesa.
Já na risada, perdura a vulnerabilidade macia da confiança, acolhendo as imperfeições e aceitando naturalmente a autocrítica. Você se observa a partir de gafes e vexames, e amplia a sua indulgência com as adversidades da própria vida. As endorfinas liberadas estimulam o sistema imunológico, acelerando a produção de células em defesa do organismo. A estrutura cardiovascular é beneficiada com a elevação controlada da frequência cardíaca.
Quem ri primeiro, ri melhor. Vou me preparar para a maratona.
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