Governador, não hesite: chame os cientistas
Quando a pandemia se alastrou, no início de 2020, matando a esmo e espalhando pânico, o governo gaúcho deu exemplo para o Brasil ao chamar cientistas à mesa e formar um comitê de dados. A partir dali, especialistas de mais 40 instituições - 13 delas universidades - passaram a orientar as ações do Estado na gestão da crise. É hora de fazer o mesmo diante da emergência climática.
Depois de três eventos extremos no Rio Grande do Sul em menos de três meses, até quem insiste em negar o aquecimento global já admite o "novo (a)normal climático" - que, de "normal", não tem nada. São mais de 60 mortes, cidades inteiras destruídas, perdas irreparáveis.
E está só começando.
A prioridade é ajudar os atingidos, buscar os desaparecidos e chorar os que se foram. É hora de limpar a lama e reconstruir o que foi levado pela violência das águas (foto), mas isso não impede que se dê um passo adiante na prevenção. E esse caminho não se faz sem dar voz e vez a quem estuda do assunto, ainda que as orientações possam desagradar alguns - já vimos esse filme na crise sanitária.
Governador Eduardo Leite, não espere mais. Repita o que fez na crise sanitária: convoque um grupo de cientistas com reputação inquestionável e lhes dê protagonismo para que apontem possíveis alternativas - incluindo diques, zoneamentos de risco, sistemas de alerta, novos equipamentos para previsões do tempo e o que mais surgir. Temos alguns dos mais qualificados hidrólogos, climatologistas e meteorologistas do país. Isso sem falar nos especialistas em ações de busca e resgate. Eles estão no poder público, nas faculdades e na iniciativa privada. Estão em Porto Alegre e no Interior.
Convoque, também, representantes das prefeituras, dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento, dos comitês de bacias hidrográficas, da Defesa Civil e da sociedade organizada. Precisamos agir. Não podemos mais ser surpreendidos pela força da natureza. Não podemos mais aceitar o negacionismo no clima, tão letal como aquele que vimos vicejar na pandemia.
Não é tarde demais. Ainda.
Trem dos Vales suspenso
A chuva que desabou sobre o Vale do Taquari não afetou a estrutura da ferrovia, mas, devido aos estragos na região e em respeito às vítimas da enchente, o Trem dos Vales - entre Muçum e Guaporé (foto) - está com os passeios temporariamente suspensos desde o último fim de semana.
A intenção, segundo o coordenador do projeto, Rafael Fontana, é retomar as viagens assim que possível, com ingressos solidários, destinando parte da renda da bilheteria para ajudar as pessoas atingidas pela tragédia no entorno.
Parceria e cuidado no Vale do Taquari
Captada pelo fotógrafo Rodrigo Ziebell, a cena acima retrata a parceria entre os integrantes da Companhia Especial de Busca e Salvamento (Cebs) do Corpo de Bombeiros Militar do RS e os cães do grupo.
Na foto, o labrador Sheik, do sargento Alex Sandro Brum, recebe água do soldado Bruno Machado, no Vale do Taquari.
- A foto foi feita em uma pausa para descanso. O bem-estar dos animais é prioridade - explica o sargento Brum.
Treinados, os animais são fundamentais no difícil trabalho de localização de vítimas, em especial em tragédias como a que se abateu sobre os municípios da região. Mais de 40 pessoas morreram e dezenas seguem desaparecidas.
Doze cachorros atuam na área, seis deles do RS, três do Paraná e três de Santa Catarina. Mais reforços caninos chegam nos próximos dias, do Mato Grosso e de Pernambuco.
- Nosso foco, neste momento, é dar uma resposta às famílias que perderam seus entes queridos. Não vamos medir esforços - diz a capitã Catia Celene Gonçalves, comandante do canil da Cebs.
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