Não basta o alerta
Quando um cataclismo ocorre, além da sua própria severidade, a gravidade é acentuada pelas capacidades de prevenção, previsão, mobilização e resposta. Nos quatro casos, registre-se que o Rio Grande do Sul evoluiu muito nos últimos anos, embora cada tragédia produza suas próprias lições.
Na prevenção, ainda há muito o que fazer sobre alertas às populações em risco, mesmo que nenhum sistema seja infalível. Examine-se o caso da Coreia do Sul. Em julho passado, durante uma visita à Zona Desmilitarizada com a Coreia do Norte, todos os cerca de 40 passageiros do ônibus em que eu estava foram sobressaltados ao mesmo tempo com um estridente plim coletivo nos celulares: era uma mensagem, escrita em diferentes línguas, sobre a aproximação de tempestades.
O aviso sonoro e por texto é mandatório - ele prescinde de autorização prévia. No mesmo dia, recebi mais três ou quatro alertas com atualizações. As autoridades coreanas também não apenas recomendam a saída de pessoas de áreas críticas: retiram-nas à força, se preciso. Ainda assim, uma semana depois, outra tempestade deixou 40 mortos, 13 deles em automóveis aprisionados em um túnel subitamente inundado.
Na Holanda, onde quase um terço do território está abaixo do nível do mar e é protegido por um sistema de diques, a segurança é obsessiva. Todo mundo sabe que ao meio-dia da primeira segunda-feira de cada mês os alarmes, que cobrem o país inteiro, soarão para testar seu funcionamento. Um sistema de sirenes também passou a ser usado em 16 cidades da serra fluminense, depois de sucessivos aguaceiros deixarem mais de mil mortos.
Muitos alarmes no Rio, porém, nem sempre funcionam na hora da emergência ou alcançam famílias em áreas remotas. Na Alemanha, registre-se, mesmo com toda a tecnologia e recursos de prevenção e previsão, 173 pessoas morreram na região da Renânia em 2021, quando, em um fenômeno similar ao do Vale do Taquari, os rios subiram em questão de horas e varreram o que havia pela frente.
Não basta prever com precisão e deixar clara a iminência do risco, seja pela imprensa, seja por redes sociais, sirenes ou celulares. As pessoas precisam tomar conhecimento, confiar na mensagem e ter condições ou apoio para deixar suas casas. Sabe-se desde sempre que, quando as advertências se multiplicam ou não se confirmam na intensidade anunciada, acabam caindo em descrédito. Nos EUA, diante do impacto humano e econômico das tragédias, esse é um fenômeno estudado: como tornar mais precisos e efetivos os alertas de tsunami, alagamentos relâmpago, tornados, incêndios florestais e furacões?
Com o aumento de eventos extremos pelas mudanças climáticas, é uma pergunta urgente para o mundo, o Brasil e, como tristemente se constata, também para o Rio Grande do Sul.
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