sábado, 30 de setembro de 2023


30 DE SETEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

OCUPAÇÃO EM ALTA

O mercado de trabalho no país segue apresentando bom desempenho, renovando o fôlego do PIB para o restante do ano, ao menos. Mais gente com ocupação significa maior potencial de crescimento da economia via mercado interno. A melhora da renda, em um momento de inflação comportada, em especial em itens básicos, como alimentos, importa em mais recursos disponíveis para o consumo. E assim a roda gira.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou na sexta-feira uma série de indicadores positivos, que vão além do número mais importante, o do desemprego. A taxa de desocupação no trimestre encerrado em agosto ficou em 7,8%. É a menor para o período desde 2014. Representa ainda uma retração de 0,5 ponto percentual na comparação com o recorte de três meses imediatamente anteriores, até maio. E 1,1 ponto abaixo de um ano atrás.

Cresceu a população ocupada, inclusive com carteira assinada, onde estão os postos de trabalho de maior qualidade, com proteção social. Caiu a taxa de subutilização da mão de obra. Ou seja, há menos brasileiros trabalhando menos do que gostariam. O desalento, que representa o contingente que desistiu de procurar ocupação, foi menor. A renda real habitual, de R$ 2.947, variou 1,1% na comparação trimestral e 4,6% em 12 meses. Desperta especial atenção a massa de rendimentos. Alcançou o valor recorde de R$ 288,9 bilhões. Trata-se da soma dos ganhos recebidos pelos trabalhadores. Demonstra o momento favorável da economia brasileira, com projeções de crescimento do PIB para o encerramento do ano na ordem de 3%, a despeito de uma já esperada desaceleração da atividade na margem.

A aproximação do final do ano deve fazer a taxa de desemprego no Brasil cair ainda mais. É um fenômeno também sazonal, devido às tradicionais contratações temporárias. Mas em períodos de maior confiança de empresários e consumidores, é natural que a efetivação também cresça, elevando os postos permanentes. Tudo aponta, portanto, para um fechamento de 2023 satisfatório em termos de mercado de trabalho, carregando efeitos benéficos para o início de 2024.

Na economia, porém, nunca o jogo está ganho. O momento positivo merece ser saudado, mas não deve obscurecer sinais inquietantes que podem vir a ter efeitos mais a médio prazo. Um destes alertas está na situação fiscal do país. Também na sexta-feira foi divulgado pelo Banco Central (BC) que as contas do setor público consolidado - que incluem o governo federal, a Previdência e o próprio BC - registraram déficit primário de R$ 79 bilhões nos oito primeiros meses do ano, revertendo superávit do mesmo período de 2022. O resultado foi puxado negativamente pelo governo federal.

Nota-se nos últimos meses que, enquanto os gastos crescem, a receita vem decepcionando. É fundamental o governo não ignorar a questão e enfrentá-la, inclusive na ponta das despesas. O Congresso tem a mesma responsabilidade. Sinalizar leniência significa alimentar o risco inflacionário e reduzir o ciclo de corte de juro pelo BC. Ainda mais devido ao aviso dos EUA de que poderão voltar ao aperto monetário. No front interno, a manutenção da confiança dos agentes econômicos - consumidores, empresários e investidores - depende da percepção de que os fundamentos não se deteriorarão.

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