11 DE SETEMBRO DE 2023
CARPINEJAR
38 será gatilho para reformas?
Política não é idolatria. Ao criticar um governante, não significa que você é oposição. O extremismo ideológico é o cancro de nossos debates públicos.
Justamente pela nossa incapacidade cultural para a abstração, jamais chegaremos ao amadurecimento democrático. Tudo é sempre levado para o lado pessoal. Não tem como discutir com pessoas, só tem como discutir com ideias. As pessoas se ferem, magoam-se, aborrecem-se, já as ideias não sentem nada.
Tente debater o aborto dentro de sua família, ou a pena de morte, ou a legalização da maconha. Será uma chacina. Não existe o costume de levantar os prós e contras de uma pauta e enxergar as múltiplas respostas com isenção. Em vez de abordar um conceito, desandamos a falar de nossas experiências: "porque eu, porque eu, porque eu". As confissões limitam o entendimento do conjunto. Você passa a defender a sua intimidade muito mais do que testar a validade de um argumento. Você não diz o que pensa, mas o que viveu. A bagagem de cada um subjuga e arrasta o pensamento para paixões impulsivas, para emoções incontroláveis.
O inchaço da máquina pública no Brasil, por exemplo, é uma controvérsia de peso, difícil de ser examinada sem ser envolvida nas trevas deletérias do sectarismo. O presidente Lula (PT) criou mais um ministério, o 38º, o da Pequena e Média Empresa, como gatilho para as suas reformas.
Já bateu o seu recorde, levando em conta os mandatos anteriores, que tinham como auge 37 ministérios.
Sabemos que é um retrocesso, não há nenhuma vantagem em soltar o cinto e comprometer a segurança fiscal. É um contrassenso administrativo: gastar mais para entregar menos. São 15 pastas a mais do que o seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL). O aumento ultrapassará gastos de R$ 2 bilhões para quatro anos. Um novo ministério representa R$ 500 mil por ano. Ou seja, somam-se mais 2 milhões na nossa conta.
Quem acaba pagando pela governabilidade é o contribuinte. Quando a coalizão no poder se encontra com um posicionamento mais próximo da centro-direita, menor é a necessidade de permuta. Michel Temer teve 29 ministérios, FHC atingiu no máximo 30 em duas gestões, Itamar manteve-se na média de 28.
O balcão de negócios parece ser o único jeito que o PT conhece para abrigar o centrão, atrair o PP e o Republicanos para seu governo e obter a maioria na Câmara Federal para aprovação dos textos das reformas da previdência e trabalhista.
Na reestruturação, cometeu o desatino de dispensar a engajada Ana Moser, que perdeu a vaga no Esporte para o deputado federal André Fufuca (PP). Sequer a competência segura os quadros. Criar cargos para compor articulações e garantir votos é uma estratégia que nem sempre funciona, sobretudo se os ministérios concedidos são inexpressivos.
Há o tempero de temeridade no passado. Enxugar demais pode render fortes dissidências. Inflar em excesso não se traduz sempre em apoio incondicional. Os dois impeachments da República ocorreram com Collor, o campeão do comedimento, com 12 ministérios, e Dilma, a campeã da superestrutura, com 39. Nenhum dos dois se salvou do desgaste da debandada. É de se refletir, em ambos os casos, com o devido distanciamento.
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