quarta-feira, 13 de setembro de 2023



12/09/2023 - 16h23min
Fabrício Carpinejar

A extinção triste e gradual das bancas de revistas

A banca funcionava como internet nos anos 80, um templo sagrado dos impressos, com um leque imenso de jornais, revistas e gibis. Você tinha noção de que uma cidade era leitora pelas bancas de revistas. Havia um reinado delas em cada esquina.

Encontravam-se um orelhão e uma banca, os dois conjugados na quina entre duas ruas. O primeiro servia para conversar com os amigos em interurbanos, e o segundo, para se conectar com o mundo.

A banca funcionava como internet nos anos 80, um templo sagrado dos impressos, com um leque imenso de jornais, revistas e gibis. Não tinha como localizar as últimas notícias e as fofocas em outro lugar.

Podíamos perder horas olhando as capas das publicações expostas, tamanha a variedade. Existia tudo que é tipo de revistinha, desde infantis até os folhetins amorosos e fotonovelas. Compravam-se encartes de receitas culinárias ou de bandas, disquinhos para crianças, livretos “passo a passo” do tricô, mapas rodoviários, flâmulas dos times de futebol.

O jornaleiro ou a jornaleira se destacava como uma referência culta e bem informada do bairro. Todos os públicos frequentavam as pequenas casinhas amarelas. Tínhamos a liberdade de folhear antes de comprar. Nada vinha ensacado para prevenir leituras gratuitas. Manchetes ocupavam as vitrines dos lados, com boletins diários de crimes ou revelações políticas.

O jornaleiro ou a jornaleira se destacava como uma referência culta e bem informada do bairro. Falante e sociável, atrás de sua trincheira do caixa, avisava quando chegavam as novas edições, atendia encomendas, chamava atenção para um acontecimento, despertava a curiosidade dos fregueses, conhecia um por um dos gostos de cada integrante da família.

Estamos perdendo nossos salva-vidas urbanos folclóricos. São raras as bancas na capital e no interior. O fluxo digital onipresente e as redes sociais engoliram o artesanato do papel. Apressaram o ocaso do negócio e a sua ameaça de extinção.

Antes, a ambição dos autônomos correspondia a ter uma placa de táxi ou uma banquinha para distribuir entretenimento. Representava a chance de sustentar o lar sem dar satisfação a um patrão. Viraram lancherias ou minimercadinhos, repassando alimentos, chicletes e balas, itens de higiene, roupas e produtos eletrônicos, longe de sua natureza original.

Ainda resta das épocas douradas a venda de apostilas de concursos. Mas, de modo geral, as bancas sobrevivem a partir de pequenas urgências, recebendo a visita de gatos-pingados. Constituem mais um apoio da saída das paradas de ônibus do que um comércio de vida independente.

Contam com o acaso da compra eventual de um refrigerante ou de um salgado, de um carregador de celular ou de uma carteira de cigarro, de artigos de papelaria ou recargas de cartão. Já não têm aquele expositor colorido, aquele canteiro de pétalas de celulose. Estão relegadas à sombra, desbotadas pelo tempo na cavernosa solidão.

Eu tenho saudade da minha alegria de menino e de adolescente ao comparecer à banca mais próxima, esperançoso, perguntando quais as novidades. Sinto falta de tutores para tanta informação desencontrada.

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