segunda-feira, 11 de setembro de 2023


11 DE SETEMBRO DE 2023
NOVO HAMBURGO

"Felicidade não se acha; a gente conquista"

O que educação, inovação e felicidade têm a ver entre si?

Desde o ano passado, a Feevale tem uma disciplina optativa sobre felicidade e a arte do bem viver para todos os alunos de todos os cursos. Ela tem gerado importantes reflexões sobre a importância de o tempo de estar na universidade precisar ser um tempo de felicidade, também. Precisa ser um tempo de vida boa. Que a gente não deixe para ser feliz depois de se formar.

Como a inovação pode ajudar o estudante a ser feliz?

Em estudos de vários campos de saber, verifica-se que a gente precisa ter sempre um propósito e um sentido para o que faz. E, quando nos propomos a inovar algo, é importante que esse algo tenha um sentido e um propósito, especialmente para a realização de um projeto das pessoas. A inovação tem de colaborar com ambientes, com relações e com conexões que tornem as pessoas mais satisfeitas com a vida que levam. Não há inovação sem educação.

Ao mesmo tempo, a tecnologia pode trazer solidão para as pessoas.

Eu entendo que não é a tecnologia ou a inovação em si que trazem a solidão: é o uso equivocado que a gente faz delas. A Unesco lançou recentemente um relatório sobre o uso excessivo de tecnologias. O problema não é a tecnologia, mas o excesso do seu uso, ou o seu uso indevido. Estamos tirando cinco, sete, oito horas por dia para ficar conectados em tecnologia, e, quando a gente pergunta no que se está usando essa tecnologia, a resposta é: "Estou olhando o que os outros estão postando". 

Esse é um tempo perdido, né? É um tempo que você poderia ocupar para relacionar-se melhor com as pessoas, para olhar a natureza, para viver com seus amigos, seus pares, seus colegas de trabalho. Eu preciso usar a tecnologia a meu serviço, e não ser usado pela tecnologia. Mas não existe um manual para a felicidade e não existe uma única felicidade. Cada um tem de descobrir as suas felicidades e precisa vivê-las no presente, tá? O que a gente quer alertar é de que se não deixe para viver as suas experiências de felicidade no futuro.

O senhor começou esta entrevista falando que o tempo de estudar precisa ser um tempo feliz. Ele não costuma ser?

Para alguns, não é. Tanto que muitos se sentem, às vezes, estressados, angustiados nesse ambiente. E uma das reflexões no campo da filosofia é de que a felicidade precisa ocorrer ao longo de todos os dias, não só quando termino o expediente, termino as aulas, quando me formo, quando estou de férias, ou no final de semana. Nossos dias precisam ser vividos como experiências, e experiências o mais agradáveis possíveis. E as relações que nós estabelecemos, seja na escola, na universidade, entre estudantes, entre professores, contribuem muito para esse ambiente de bem-estar e tranquilidade, e não de estresse e preocupação que acabamos nós mesmos produzindo.

Então, na verdade, a felicidade tem mais a ver com as relações sociais do que com um propósito que se tem, certo?

Também tem a ver com o propósito, mas a aprendizagem em educação necessariamente é uma relação humana. Ela é um processo relacional e humano, que tem de ser prazeroso, amigável, confortável, para que a felicidade se manifeste. Nós não podemos transformar os processos de estudar e trabalhar em algo pesado, estressante e desgastante. Pelo contrário: nós podemos ressignificá-los. Nós precisamos também ter atenção para essas dimensões, para que esses processos sejam, no caso, prazerosos, e que nos causem um bem-estar durante esses períodos, esses dias e esses anos que nós ficamos estudando e trabalhando.

Como se pode tornar esses processos mais prazerosos?

A ideia de relacionar a educação com a inovação é de que cada um tem de buscar, a partir da sua formação, da sua educação, a conquista da felicidade. A felicidade não se acha; a gente a conquista, a gente a constrói ao longo da vida. A gente constrói a felicidade com as nossas opções, com as nossas relações e com a nossa participação efetiva. E ela não é algo que vai se encontrar. Ela vai se manifestar em várias experiências que nós dermos para elas atenção, sentido, significado e, principalmente, compartilhar isso junto dos outros com os quais vivemos cada dia de nossas vidas.

Graduado em Filosofia Plena e doutor em Educação, Gabriel Grabowski falará sobre educação, inovação e felicidade no Feevale Summit. Nesta entrevista, defende que a educação e a inovação devem colaborar para o bem-estar do aluno e para a sua busca por uma vida feliz.

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