sábado, 23 de setembro de 2023



23 DE SETEMBRO DE 2023
CARPINEJAR

Troca de gerência

O homem perdeu a vez. Teve séculos e séculos para aprender a pedir a mulher em casamento, e jamais alcançou a alta performance. Pelo contrário, colecionou fiascos e vexames.

Quais são os relatos das noivas? "Ele estava nervoso, estava sem jeito, estava incompreensível, estava maluco, estava confuso, estava com meias de pares trocados?"

Não há um feedback positivo. Está na hora de transferir o rito para quem tem mais experiência e traquejo para a felicidade. O homem deve aceitar a sua incompetência.

Falta determinação de sua parte. Cria suspense sem necessidade. Engasga-se com o discurso. Vaza a surpresa para os amigos. Compra o anel na joalheria com o número errado mesmo levando cola. Não sabe diferenciar uma bijuteria de um brilhante. É capaz de extraviar a aliança em algum dos seus bolsos do casaco, ou esquecê-la como um Sonrisal dentro de um cálice de espumante. Quando vai se ajoelhar, acaba rezando ou sentindo câimbras.

Se não fossem os garçons, nada aconteceria, tudo ficaria oculto na covardia. Metade dos pedidos de casamento foi salva pelos garçons, que tentam melhorar um pouco o planejamento amador do evento colocando velas na mesa, administrando o tempo das refeições, incentivando ao fundo com aplausos.

Se o ato deu certo, significa que alguém organizou pelo noivo.  É o momento de demitir o homem por justa causa desse papel. Não nasceu para isso. É um fracasso tanto para casar como para se divorciar. Ainda é muito filhinho da mamãe, cheio de culpas, projeções, ato falhos.

Tampouco desfruta de timing do relacionamento. Só pede a mão tarde demais, quando já cansou o seu par, como um último esforço para reconquistá-lo, como derradeira cartada para não restar sozinho. Ou porque pisou na bola e busca pagar a dívida com uma nova dívida, ou porque já se mostrou um chato e anseia pela redenção a partir de uma maior responsabilidade.

Ele confunde casamento com reconciliação, um modo de abafar as desconfianças e as crises. Sempre faz a declaração quando o namoro não está bom, ou quando morar junto já é um tédio, ou quando a química não funciona mais.

O romance encontra-se por um fio, e ele quer banhar os problemas com o ouro.

Pede quando a relação parte para o finzinho do segundo tempo, com time desorganizado diante da derrota iminente, à base do chuveirinho desesperado na pequena área. Pede apenas quando não tem nenhuma outra opção, não tem nada melhor para oferecer.

Cria constrangimentos com plateia ao redor, tirando a liberdade de escolha, impedindo qualquer chance de que ela diga não. ua parceira vem pensando em se separar e ele aparece com uma proposta na contramão da verdade, absolutamente fora da realidade da convivência.

Para o bem da reputação do amor, deixe o noivado para a batuta da mulher. Não irá enrolar, não agirá de forma infantil. Será mais decidida, mais criativa, mais sensível para perceber o momento ideal. Pedirá o namorado em casamento na época certa, quando os laços estão fortes e seguros, quando ainda existe o brilho nos olhos.

CARPINEJAR

Nenhum comentário: