terça-feira, 26 de setembro de 2023


26 DE SETEMBRO DE 2023
NÍLSON SOUZA

Manifesto revolucionário

Participei na semana passada da 17ª Feira Literária de Viamão, na condição de representante da Associação Rio-grandense de Imprensa. Não foi apenas um evento lindo, uma extraordinária festa multicultural, com a participação de autoridades, escritores, artistas, jornalistas, tradicionalistas e de um público vibrante. Foi, também, uma convocação para nova Revolução Farroupilha, com potencial para acirrar os ânimos da gauchada. Explico no final.

Em torno da histórica Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição - o segundo templo católico mais antigo do Estado, cuja construção se iniciou em 1766 -, reuniram-se durante cinco dias viamonenses e visitantes, com destaque para a presença de milhares de estudantes. Crianças e adolescentes deram o toque de encanto à festa, desfilando pilchados no 20 de Setembro, dançando e cantando nos palcos instalados na praça e participando ativamente de corais, bandas escolares e peças teatrais. Viamão, com uma rede de 77 escolas municipais e mais de 30 mil alunos, destaca-se pela atenção à educação.

O evento festivo, inclusive, começou com uma grande aula de solidariedade. A prefeitura local, com o apoio de empresas da comunidade, decidiu doar livros e kits de material escolar para as crianças de Roca Sales que tiveram suas residências e escolas atingidas pela enchente no Vale do Taquari. Para legitimar a doação, escolares viamonenses escreveram cartinhas para seus colegas de Roca Sales e convidaram a apresentadora Cristina Ranzolin, da RBS TV, para ser a embaixadora da campanha. Presente no ato simbólico, Cristina relatou o episódio comovente de uma menina roca-salense que deixou os brinquedos de lado enquanto a água subia e tentou salvar unicamente sua mochila com livros e cadernos, colocando-os entre o forro e o telhado da casa - que também acabaram sendo inundados.

- Com esta doação, vocês estão fazendo algo grandioso! - concluiu a jornalista, dirigindo-se às crianças.

Mas o que começou com nobreza terminou com a já mencionada provocação. Na homenagem prestada a profissionais de imprensa pelo jornalista José Barrionuevo, patrono da feira, dois dos agraciados com o diploma Luigi Rossetti encarnaram o carbonário italiano e bradaram pela transferência do Acampamento Farroupilha de Porto Alegre (cidade que permaneceu fiel ao Império) para Viamão (a verdadeira capital revolucionária). A sugestão foi recebida com tantos aplausos e gritos entusiasmados dos viamonenses que só restou a este porto-alegrense infiltrado sussurrar:

- Fechem a ponte da Azenha!

NÍLSON SOUZA

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