NOVA ARCA DE NOÉ
As chuvas quase contínuas, que destruíram e mataram, nos fazem exclamar: "O tempo está ficando louco". Em verdade, os loucos somos nós, que nos negamos a aprender com a natureza, sem perceber o perigo das mudanças climáticas, causa profunda do desastre de agora. Com a enxurrada esquecemos a seca de meses atrás, que dizimou parte de nossa agricultura. É impossível saber o que é pior - se a seca ou a chuvarada -, pois não se trata de uma competição em que cada lado procura superar o outro.
A chuva deve continuar e não dar trégua. Culpa-se o El Niño, como se o fenômeno fosse um fantasma que surge sem explicações, quando - de fato - é obra nossa. Cada um de nós (do mais humilde ao nababo com milhões) tem culpa direta ou indireta. A chuvarada enlouquecida que destruiu cidades, deixou milhares desabrigados e também matou é consequência do efeito estufa que leva à crise do clima.
Além da destruição, há coisas impossíveis de se esquecer. Em Porto Alegre, fecharam apressadamente, com retroescavadeiras, o mal conservado muro da Avenida Mauá para que a água não atingisse o centro da cidade, como em 1941. Naqueles anos ainda não se falava em crise climática, mesmo que ela já existisse, e a regra era cortar florestas. A noção de meio ambiente (e a própria palavra) sequer constava da linguagem. Hoje, as comportas e a antiga ponte do Guaíba são nossos guardiões contra a incontrolável chuvarada.
Hoje, há órgãos internacionais que, a partir da natureza, apontam os perigos. No Brasil, temos um Ministério do Meio Ambiente e do Clima, e aqui secretarias estadual e municipais, mas atuando quase só na formalidade burocrática.
Já pensaram no que teria ocorrido se a tal mina a céu aberto, à margem do Rio Jacuí, houvesse sido implementada? As chuvas e os alagamentos levariam de roldão os detritos da mina e o carvão acumulado, que infestariam o Guaíba e os demais rios. E a Capital e toda a Região Metropolitana ficariam sem água e o cheiro da peste completaria o horror.
Só uma imensa nova Arca de Noé nos salvaria, então, do novo dilúvio podre.
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