16 DE SETEMBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES
APRENDER NA TRAGÉDIA
Nas tragédias, como as de agora no Estado, é preciso ir às origens para não se repetirem. Aqui não se tratou de um "fenômeno natural", como o terremoto em Marrocos, devido ao deslocamento das placas tectônicas. Não busco substituir-me ao minucioso trabalho dos repórteres e fotógrafos deste jornal (que repercutiu pelo país), mas ir adiante com a explicação de especialistas.
Assim, dou a palavra ao geólogo Rualdo Menegat, professor da UFRGS e respeitado mundialmente por explicar a construção de Machu Picchu pelas antigas civilizações andinas.
Demonstra ele: "As grandes chuvas, por conta de um ciclone extratropical, foram a causa principal, pois o nível dos rios se eleva em até 10m. Mas há fatores agravantes, como a geomorfologia da bacia hidrográfica, o uso do solo nas cabeceiras, a ocupação de áreas ribeiras e o uso dos recursos hídricos". E frisa: "Não há tempo sequer para fuga dos habitantes, como nas enchentes do Taquari e do das Antas".
Aponta também para o "agravante geomorfológico" e diz: "Os cursos d´água que afluem ao Lago Guaíba e à parte final do Rio Jacuí (como Jacuí-Mirim, Antas, Taquari, Caí, Sinos e Gravataí) nascem no Planalto Meridional e despencam até a Depressão Periférica em alta velocidade".
Tudo se agrava com o uso do solo e a ocupação das áreas ribeiras. O desmatamento contínuo junto a rios e arroios e a destruição dos banhados das cabeceiras aumentam o volume das águas e a velocidade do escoamento na superfície. A água da chuva não permanece nos banhados nem no solo das matas e pouco recarrega os aquíferos. Corre e se acumula nas zonas baixas.
A desenfreada ocupação urbana, "que não respeita limites", agrava tudo. Falta planejamento urbano e nem as barragens se adaptam a dar vazão às águas. Além de produzir energia, as barragens poderiam servir como contenção. Faltam planos de emergência em casos de ruptura.
A crise climática exige ações concretas sobre a gestão das águas e territórios.
Concluo eu: a inépcia dos governantes nos faz aprender com a desgraça.
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