Mais pessoas ficam em casa e reduzem pressão por vagas
Patrícia Comunello
Mercado com menor oferta de emprego pode explicar que mais pessoas estejam optando por ficar em casa, turbinando a cota de inativos. Problema pode surgir quando esse contingente decidir voltar ao trabalho. Vai ter vaga para todos?
Virar um inativo no mercado de trabalho está normalmente associado à idade. E o envelhecimento da população aumenta a porção desse segmento. Mas tudo indica, segundo analistas, que um contingente entre 10 e 60 anos, enquadrado na estatística do setor como População em Idade Ativa (PIA), está escolhendo essa condição para uma saída estratégica do mercado de vagas na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Levantamento exclusivo elaborado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) para o Jornal do Comércio revela que o grupo de inativos aumentou 2,1% entre 2008 e 2013, taxa que só foi menor, em 20 anos, aos 2,3% do período de 1993-1998. Em duas décadas, 400 mil residentes na região pregaram o crachá de inativo no peito.
A FEE indicou que ao lado dessa evolução tem-se uma PIA que cresceu metade em pontos percentuais, 1% no quinquênio recente. Em 2013, o grupo somava 3,4 milhões de pessoas. Em 1993, eram 2,5 milhões. Enquanto isso, a População Economicamente Ativa (PEA), a mão de obra que efetivamente está trabalhando ou em busca de colocação, variou apenas 0,2%, alcançando 1,9 milhão. Vinte anos antes eram 1,43 milhão. Uma das motivações, além do efeito demográfico, pode estar ligada ao menor ritmo de oferta de postos, desde 2013, depois de forte expansão, e a uma maior recomposição da renda do chefe de família, especula o economista da fundação Raul Luis Assumpção Bastos.
O economista adverte que parte dos inativos da RMPA pode querer voltar e pressionar o desemprego, cuja taxa mergulhou ao menor piso da série da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) apurada desde 1993. Do teto de 16,7% de desocupados ao ano em 2003, o mercado da RMPA cravou média anual de 6,4% no ano passado. O economista da FEE observa que o comportamento de duas variáveis – PEA e PIA – merece atenção em meio à conjuntura de menor atividade, indicadores macroeconômicos vacilantes.
A PEA vem perdendo fôlego até mesmo sobre a PIA. Assumpção adverte que a porção economicamente ativa pode estar vivendo uma “acomodação”, depois de ter experimentado, há cinco anos (2008), um salto vertiginoso. Naquele ano, citou o economista, o grupo ganhou 76 mil pessoas, saltando a 1,878 milhão. “Foi um avanço excepcional em um ano”, qualifica o economista, especialista em mercado de trabalho e integrante do grupo da PED, coordenada no Estado por FEE, Dieese e Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (Fgtas).
Antes disso, a PEA havia registrado um surto fora do comum entre 1993 e 1998, de 2%, mas agregando 148 mil. Assumpção ressalta que aquela fração da década de 1990, que marca a estreia da pesquisa no País (também é feita em outras regiões metropolitanas), resume um período de desemprego com taxas quase três vezes superiores às atuais. “A questão agora é: a relativa estabilidade da PEA indica mudança estrutural ou situação transitória?”, lança o economista.
Para ele, os sinais indicam que se trata mais que apenas fenômeno demográfico, associado ao envelhecimento e porção que ingressa pela idade na etapa inativa. “Parte da redução da PEA é efeito da PIA que cresce menos, mas em alguma medida houve acomodação da força do trabalho, após forte expansão de 2008.” O que pode estar no horizonte não é nada confortável. Assumpção adverte que, em algum momento, se pode enfrentar trajetória mais robusta de crescimento, e a PEA deverá recompor-se. “Isso vai rebater no mercado e na taxa de desemprego”, vislumbra o especialista.
Enquanto o ambiente ainda não oferece riscos, a dona de casa Michele Matos da Silva ocupa-se de tarefa não menos pesada que as jornadas de servente de limpeza que cumpria há dois anos, quando tinha carteira assinada. Michele é mãe do trio Maikon, Maylon e Mikael, com cinco, dois e um ano, respectivamente. “Gastava com escola e transporte e recebia de salário pouco mais de
R$ 600,00”, compara a jovem, com 26 anos. “Meu marido me disse: ‘Pode parar de trabalhar que seguro as coisas em casa’.” Garantia dada, Michele decidiu que ficaria fora do mercado por um tempo e acompanharia melhor o crescimento dos filhos.
A mãe do trio não sabe até quando ficará nessa condição e cita que recebe R$ 170,00 de três benefícios do Bolsa Família. Único risco será se o marido, que atua como informal no setor da construção civil, tiver queda em serviços. “Hoje, ele ganha R$ 2.000,00 a R$ 2.500,00 por mês. Não dá para reclamar”, reage a dona de casa. A mãe de Michele, Maria Sueli Matos, 46 anos, está há dois anos em benefício previdenciário por doença. Também o pai da ex-auxiliar de limpeza está inativo, cumprindo afastamento. Portanto, somente na família Matos, que reside na Vila Cruzeiro, na Capital, três dos quatro indivíduos em idade ativa reforçam a estatística do momento de inativos na RMPA.
“A vida era muito mais precária há 20 anos, menos escolaridade, menos ônibus, menos saneamento, menos eletrodoméstico. Muita coisa melhorou”, contrasta a pesquisadora, aos 54 anos. Para quem já viu desespero nos olhos de moradores que não tinham esperança de inserção quando a taxa beirava 17% - até 25% para jovens de 18 a 24 anos, Daurilia observa que mais anos de estudo, o ingresso das mulheres nas vagas (disputando com homens a oferta) e compra de mais itens para casa mostraram rumos do setor.
O avanço da carteira assinada, desde meados dos anos 2000, também demarcou nova safra de trabalhadores. Mesmo assim, outros indivíduos mantêm-se em condição para lá de precária. “Abordo pessoas na periferia que assumem estar no tráfico de drogas para sustentar a família. Chegam a apontar o local onde tem o ponto”, conta a pesquisadora. “Se denunciar, nunca mais entro na vila. Eles são listados como desempregados”, conta. Mas outros como Michele Matos da Silva e a mãe Maria Sueli Matos estão em casa, envolvidas com afazeres domésticos. “Nessas situações, é comum ter Bolsa Família e mesmo trabalho informal”, observa Daurilia. Cuidar do lar, tarefa não enquadrada como ocupação, apareceu com 21,7% do contingente de inativos na Região Metropolitana em 2013.
Baixo salário e condições de trabalho nada atrativas. Essas alegações são listadas por muitos que aportam na agência do Sistema Nacional de Emprego (Sine), no Centro de Porto Alegre. Muitas mulheres estão voltando a buscar vagas, depois de se afastar por um tempo do mercado. Elas respondiam, em 2013, por 62,8% dos inativos na RMPA, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Casos como o da jovem Sara Niz são emblemáticos. Sara, 32 anos e que acumula na carteira de trabalho experiência em varejo, deixou o último trabalho por não enxergar perspectivas de melhoria.
O que mais motivou a ex-comerciária, casada e mãe de um menino de 13 anos, a se demitir foi a queda nas vendas de calçados, setor em que atuava, o que minguou as comissões, complemento que pesava para alavancar seu vencimento.
Sara aportou no Sine no final de agosto e perguntou ao coordenador do posto, Otaviano Brum:
“Como faço para conseguir uma colocação que pague mais, que não seja piso?” Brum descobriu que a jovem, que reside em Alvorada, tem Ensino Médio completo, mas experiência só em comércio. “Esse é um problema”, indicou o coordenador, sugerindo a qualificação em cursos para reposicionar a carreira, como no Pronatec, modalidade gratuita do governo federal. Sara disse que não sabia como acessar, conferiu a lista de opções no balcão e identificou a preferência em planejamento e controle de produção. “Vou fazer este e vamos ver se consigo algo melhor”, motiva-se.
Em casa há mais de dois meses, Marcia Chaves Silva, 29 anos, também decidiu sair da cafeteria onde atuava na zona Norte da Capital para tentar nova chance. Com Ensino Médio, ouviu do atendente do Sine que ela poderia tentar algo na área administrativa. “Preciso de uma colocação que consiga conciliar jornada de dia para cuidar da minha filha de noite”, explicou Marcia, cujo marido está empregado, mas sem carteira assinada e recebe cerca de R$ 1,5 mil por mês. O casal ainda conta com o Bolsa Família. “Muitos acham que a gente trabalha porque precisa, o que é verdade, e pagam mal. Mas o que eu quero mesmo é um lugar que me valorize”, avisa Marcia.
A dupla analisou respostas de quase 20 mil indivíduos que participaram entre 2006 e 2013 da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), apurada pelo IBGE em seis regiões metropolitanas, entre elas a de Porto Alegre. O foco foi mapear o destino de pessoas entre 19 e 50 anos que se encontravam em três situações pela PME – até um ano sem colocação, de um a dois anos sem emprego ou mais de dois anos desocupado. Cerca de 20% dos desempregados nas maiores regiões metropolitanas estão fora do mercado há um ano ou mais.
“Sabe-se pouco sobre esses movimentos observando as características. Falta entender mais os mecanismos que levam a essa condição”, destaca Reis. A probabilidade estimada de saída do desemprego para a inatividade é de 32% para quem está há um ano sem colocação. Nesse prazo, a chance de voltar ao mercado, ocupando vaga formal ou informal, é de até 17%, apontaram os autores do estudo. Metade das pessoas que está há cinco anos sem colocação tende a migrar para a inatividade. Por outro lado, quanto maior a escolaridade, maior a chance de transitar ao emprego formal, reduzindo a saída a vagas informais e mesmo à condição de inativo.
Virar um inativo no mercado de trabalho está normalmente associado à idade. E o envelhecimento da população aumenta a porção desse segmento. Mas tudo indica, segundo analistas, que um contingente entre 10 e 60 anos, enquadrado na estatística do setor como População em Idade Ativa (PIA), está escolhendo essa condição para uma saída estratégica do mercado de vagas na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Levantamento exclusivo elaborado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) para o Jornal do Comércio revela que o grupo de inativos aumentou 2,1% entre 2008 e 2013, taxa que só foi menor, em 20 anos, aos 2,3% do período de 1993-1998. Em duas décadas, 400 mil residentes na região pregaram o crachá de inativo no peito.
A FEE indicou que ao lado dessa evolução tem-se uma PIA que cresceu metade em pontos percentuais, 1% no quinquênio recente. Em 2013, o grupo somava 3,4 milhões de pessoas. Em 1993, eram 2,5 milhões. Enquanto isso, a População Economicamente Ativa (PEA), a mão de obra que efetivamente está trabalhando ou em busca de colocação, variou apenas 0,2%, alcançando 1,9 milhão. Vinte anos antes eram 1,43 milhão. Uma das motivações, além do efeito demográfico, pode estar ligada ao menor ritmo de oferta de postos, desde 2013, depois de forte expansão, e a uma maior recomposição da renda do chefe de família, especula o economista da fundação Raul Luis Assumpção Bastos.
O economista adverte que parte dos inativos da RMPA pode querer voltar e pressionar o desemprego, cuja taxa mergulhou ao menor piso da série da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) apurada desde 1993. Do teto de 16,7% de desocupados ao ano em 2003, o mercado da RMPA cravou média anual de 6,4% no ano passado. O economista da FEE observa que o comportamento de duas variáveis – PEA e PIA – merece atenção em meio à conjuntura de menor atividade, indicadores macroeconômicos vacilantes.
A PEA vem perdendo fôlego até mesmo sobre a PIA. Assumpção adverte que a porção economicamente ativa pode estar vivendo uma “acomodação”, depois de ter experimentado, há cinco anos (2008), um salto vertiginoso. Naquele ano, citou o economista, o grupo ganhou 76 mil pessoas, saltando a 1,878 milhão. “Foi um avanço excepcional em um ano”, qualifica o economista, especialista em mercado de trabalho e integrante do grupo da PED, coordenada no Estado por FEE, Dieese e Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (Fgtas).
Antes disso, a PEA havia registrado um surto fora do comum entre 1993 e 1998, de 2%, mas agregando 148 mil. Assumpção ressalta que aquela fração da década de 1990, que marca a estreia da pesquisa no País (também é feita em outras regiões metropolitanas), resume um período de desemprego com taxas quase três vezes superiores às atuais. “A questão agora é: a relativa estabilidade da PEA indica mudança estrutural ou situação transitória?”, lança o economista.
Para ele, os sinais indicam que se trata mais que apenas fenômeno demográfico, associado ao envelhecimento e porção que ingressa pela idade na etapa inativa. “Parte da redução da PEA é efeito da PIA que cresce menos, mas em alguma medida houve acomodação da força do trabalho, após forte expansão de 2008.” O que pode estar no horizonte não é nada confortável. Assumpção adverte que, em algum momento, se pode enfrentar trajetória mais robusta de crescimento, e a PEA deverá recompor-se. “Isso vai rebater no mercado e na taxa de desemprego”, vislumbra o especialista.
Enquanto o ambiente ainda não oferece riscos, a dona de casa Michele Matos da Silva ocupa-se de tarefa não menos pesada que as jornadas de servente de limpeza que cumpria há dois anos, quando tinha carteira assinada. Michele é mãe do trio Maikon, Maylon e Mikael, com cinco, dois e um ano, respectivamente. “Gastava com escola e transporte e recebia de salário pouco mais de
R$ 600,00”, compara a jovem, com 26 anos. “Meu marido me disse: ‘Pode parar de trabalhar que seguro as coisas em casa’.” Garantia dada, Michele decidiu que ficaria fora do mercado por um tempo e acompanharia melhor o crescimento dos filhos.
A mãe do trio não sabe até quando ficará nessa condição e cita que recebe R$ 170,00 de três benefícios do Bolsa Família. Único risco será se o marido, que atua como informal no setor da construção civil, tiver queda em serviços. “Hoje, ele ganha R$ 2.000,00 a R$ 2.500,00 por mês. Não dá para reclamar”, reage a dona de casa. A mãe de Michele, Maria Sueli Matos, 46 anos, está há dois anos em benefício previdenciário por doença. Também o pai da ex-auxiliar de limpeza está inativo, cumprindo afastamento. Portanto, somente na família Matos, que reside na Vila Cruzeiro, na Capital, três dos quatro indivíduos em idade ativa reforçam a estatística do momento de inativos na RMPA.
Fonte: Rafael Caumo/FEE/PED-RMPA. AURACEBIO PEREIRA/ARTE/JC
Duas décadas de olho na mão de obra
Em 1993, a geógrafa Daurilia Oliveira da Silva percorria rincões do meio rural de Porto Alegre atrás de quem tinha ou não trabalho. A taxa de desemprego se situava em quase 13% ao ano, quando estreou a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) na Região Metropolitana da Capital (RMPA). Daurilia é a mais antiga pesquisadora da série e registra na memória as nuances desse mercado.“A vida era muito mais precária há 20 anos, menos escolaridade, menos ônibus, menos saneamento, menos eletrodoméstico. Muita coisa melhorou”, contrasta a pesquisadora, aos 54 anos. Para quem já viu desespero nos olhos de moradores que não tinham esperança de inserção quando a taxa beirava 17% - até 25% para jovens de 18 a 24 anos, Daurilia observa que mais anos de estudo, o ingresso das mulheres nas vagas (disputando com homens a oferta) e compra de mais itens para casa mostraram rumos do setor.
O avanço da carteira assinada, desde meados dos anos 2000, também demarcou nova safra de trabalhadores. Mesmo assim, outros indivíduos mantêm-se em condição para lá de precária. “Abordo pessoas na periferia que assumem estar no tráfico de drogas para sustentar a família. Chegam a apontar o local onde tem o ponto”, conta a pesquisadora. “Se denunciar, nunca mais entro na vila. Eles são listados como desempregados”, conta. Mas outros como Michele Matos da Silva e a mãe Maria Sueli Matos estão em casa, envolvidas com afazeres domésticos. “Nessas situações, é comum ter Bolsa Família e mesmo trabalho informal”, observa Daurilia. Cuidar do lar, tarefa não enquadrada como ocupação, apareceu com 21,7% do contingente de inativos na Região Metropolitana em 2013.
Demissão para escolher vaga melhor
O sistema de intermediação de vagas público dá sinais de que o ritmo de disputa por vagas reduziu. Isso gerou um melhor aproveitamento das ofertas, o que sempre foi um gargalo. Dados da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (Fgtas) apontam que o número de postos no sistema caiu 40%. De 156,9 mil oportunidades de janeiro a julho de 2013, o estoque recuou a 95,3 mil em 2014. Os inscritos a vagas somaram 220,6 mil nos primeiros sete meses do ano, 41% abaixo do volume do período do ano passado, de 376,7 mil pessoas.Baixo salário e condições de trabalho nada atrativas. Essas alegações são listadas por muitos que aportam na agência do Sistema Nacional de Emprego (Sine), no Centro de Porto Alegre. Muitas mulheres estão voltando a buscar vagas, depois de se afastar por um tempo do mercado. Elas respondiam, em 2013, por 62,8% dos inativos na RMPA, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Casos como o da jovem Sara Niz são emblemáticos. Sara, 32 anos e que acumula na carteira de trabalho experiência em varejo, deixou o último trabalho por não enxergar perspectivas de melhoria.
O que mais motivou a ex-comerciária, casada e mãe de um menino de 13 anos, a se demitir foi a queda nas vendas de calçados, setor em que atuava, o que minguou as comissões, complemento que pesava para alavancar seu vencimento.
Sara aportou no Sine no final de agosto e perguntou ao coordenador do posto, Otaviano Brum:
“Como faço para conseguir uma colocação que pague mais, que não seja piso?” Brum descobriu que a jovem, que reside em Alvorada, tem Ensino Médio completo, mas experiência só em comércio. “Esse é um problema”, indicou o coordenador, sugerindo a qualificação em cursos para reposicionar a carreira, como no Pronatec, modalidade gratuita do governo federal. Sara disse que não sabia como acessar, conferiu a lista de opções no balcão e identificou a preferência em planejamento e controle de produção. “Vou fazer este e vamos ver se consigo algo melhor”, motiva-se.
Em casa há mais de dois meses, Marcia Chaves Silva, 29 anos, também decidiu sair da cafeteria onde atuava na zona Norte da Capital para tentar nova chance. Com Ensino Médio, ouviu do atendente do Sine que ela poderia tentar algo na área administrativa. “Preciso de uma colocação que consiga conciliar jornada de dia para cuidar da minha filha de noite”, explicou Marcia, cujo marido está empregado, mas sem carteira assinada e recebe cerca de R$ 1,5 mil por mês. O casal ainda conta com o Bolsa Família. “Muitos acham que a gente trabalha porque precisa, o que é verdade, e pagam mal. Mas o que eu quero mesmo é um lugar que me valorize”, avisa Marcia.
Mulheres tendem a deixar mercado, diz estudo
Quanto mais tempo uma pessoa fica desempregada, maior a chance de entrar para a inatividade. Entre as mulheres, o risco se eleva ainda mais, pois a mão de obra feminina responde por 70% dos desempregados que estão há mais de dois anos sem conseguir colocação. Esses achados estão em estudo dos economistas Maurício Cortez Reis, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e Marina Aguas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).A dupla analisou respostas de quase 20 mil indivíduos que participaram entre 2006 e 2013 da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), apurada pelo IBGE em seis regiões metropolitanas, entre elas a de Porto Alegre. O foco foi mapear o destino de pessoas entre 19 e 50 anos que se encontravam em três situações pela PME – até um ano sem colocação, de um a dois anos sem emprego ou mais de dois anos desocupado. Cerca de 20% dos desempregados nas maiores regiões metropolitanas estão fora do mercado há um ano ou mais.
“Sabe-se pouco sobre esses movimentos observando as características. Falta entender mais os mecanismos que levam a essa condição”, destaca Reis. A probabilidade estimada de saída do desemprego para a inatividade é de 32% para quem está há um ano sem colocação. Nesse prazo, a chance de voltar ao mercado, ocupando vaga formal ou informal, é de até 17%, apontaram os autores do estudo. Metade das pessoas que está há cinco anos sem colocação tende a migrar para a inatividade. Por outro lado, quanto maior a escolaridade, maior a chance de transitar ao emprego formal, reduzindo a saída a vagas informais e mesmo à condição de inativo.
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