15
de setembro de 2014 | N° 17923
MOISÉS
MENDES
Gaúchos e sbornianos
Escrevi
na semana passada sobre a divisão criada na Sbórnia com o espetáculo Let’s
Duet, que seria um plágio de Tangos & Tragédias. Como todo mundo tem opiniões
categóricas sobre qualquer coisa, decidi ter a minha, porque o conflito é o que
move a Sbórnia.
Defendi
que o Tangos é um clássico e que os guris do Let’s Duet deveriam ser vistos
como fãs – e não como cópias plagiadas – dos personagens criados por Nico
Nicolaiewsky e Hique Gomez.
Recebi
ontem dois telegramas, autenticados, da Sbórnia. Todas as letras estão em maiúscula,
claro, porque assim são os telegramas, e o primeiro diz o seguinte:
CARO
MOISES, O GOVERNO DA SBORNIA TE SAÚDA E CONCORDA COM TUAS POSIÇÕES SOBRE A
CLONAGEM. CLONES DE KRAUNUS E PLETSKAYA SERÃO ENVIADOS VIA MARÍTIMA CONFORME
PEDIDOS!
E
este é o segundo telegrama:
O
CONTRAGOVERNO REVOLUCIONÁRIO DA SBORNIA CONSIDERA INACEITAVEL O DOWNLOAD LIVRE
DE KRAUNUS E PLETSKAYA. ESTE EMAIL EXPLODIRAH ASSIM QUE CAPTURARMOS OS ATORES
DO LET’S DUET!
E
agora? É a discordância, muitas vezes bélica, que move também a cultura na Sbórnia
e em muitos outros lugares. Falei com o Hique por mail, e ele não sabe de nada.
Combinamos
que eu iria verificar a autenticidade dos telegramas e publicá-los. Aí estão. Prefiro
ficar com a posição do governo sborniano.
Também
recebi muitos mails sobre outro conflito, este aqui no Rio Grande do Sul. São
sobre o que escrevi no fim de semana sobre o excesso de gauchismo e as reações
ao casamento coletivo com gays em Livramento. Não queria e não quero contribuir
com mais gritarias.
Gritarias
são boas para debates rasteiros em redes sociais (não tenho nada contra debates
em redes sociais, mas não levo em conta debates rasteiros).
Dos
mails que recebi, nenhum, mas nenhum mesmo, sai fora do debate de ideias,
contra e a favor do casamento gay e/ou do tradicionalismo. A maioria reflete
sobre as tradições e faz pensar sobre como ainda nos consideramos, como a Sbórnia
desgrudada do resto do mundo, uma ponta desgarrada do Brasil.
Essa
condição meridional, do Sul profundo, explica boa parte das trincheiras em que
buscamos proteção e respeito.
Aos
que pensam assim e que discordam do que escrevi, quero dizer o óbvio: respeito
quem se dedica ao culto do tradicionalismo. Mas não me sinto menos gaúcho por não
exaltar o que seriam nossas tradições.
Esse
debate deveria ser orientado menos pelo que gente como eu pensa disso tudo e
mais pela angústia dos jovens que frequentam CTGs. É o que está presente na
reportagem da Kamila Almeida, publicada por ZH, que já citei aqui.
O
tradicionalismo entenderia melhor esses conflitos se prestasse atenção no que
os jovens tradicionalistas, desencantados com os CTGs, disseram na reportagem
da Kamila.
Eu
sou um mero palpiteiro, sou ovelha apartada do resto do rebanho. Me sinto como
um sborniano que um dia o Hique e o Nico teriam inventado.
O
tradicionalismo precisa entender as ovelhas assustadas que ainda estão por
perto.
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