segunda-feira, 22 de setembro de 2014


22 de setembro de 2014 | N° 17930
EDITORIAL

O JOGO DA DESCONSTRUÇÃO

O eleitor espera que a tática da desqualificação do oponente seja substituída pela apresentação de propostas menos superficiais e evasivas.

Algo está muito errado numa democracia quando a tática da desqualificação do adversário se transforma, pela insistência, no aspecto mais percebido das campanhas políticas. O cenário brasileiro indica que a troca de acusações parece ter ultrapassado, a duas semanas do pleito, os limites da crítica a possíveis defeitos e deficiências dos oponentes e de seus planos de governo.

Tem prevalecido, na reta final, a retórica do ataque, não só entre os candidatos que lideram as pesquisas. O que fica dos debates e dos programas na TV e no rádio é a sensação generalizada de que as agressões se sobrepõem à apresentação de propostas. O objetivo é a imposição de uma pauta diversionista, que em nada contribui para a qualidade da campanha e o esclarecimento de pontos de vista.

Compreende-se que, numa disputa acirrada, as posições críticas possam até preponderar, em determinados momentos dos confrontos. Tanto que, segundo os cientistas políticos, a ausência de duelos verbais numa eleição pode ser também o sinal do empobrecimento do debate e do distanciamento da população em relação ao que está em disputa. Por isso são aceitas, como parte da exposição de ideias, as atitudes de quem, na tentativa de impor suas ideias, deprecia a trajetória e as propostas dos adversários. Também é assim que se areja o ambiente democrático, ou a política seria uma atividade condenada ao tédio e à desimportância.

Mas a tática do ataque e da desqualificação não pode ter a hegemonia de uma campanha, como parece acontecer no Brasil, no instante em que as pesquisas indicam oscilações e as mais variadas possibilidades. Além de rebaixar o debate, a linha agressiva adotada por alguns candidatos retira do eleitor a possibilidade de avaliar as reais intenções dos concorrentes. São relegados a um segundo plano os que, eventualmente fora dos confrontos, ainda tentam defender uma postura propositiva.


O país fica sem saber o que os pretendentes à Presidência da República e aos governos estaduais defendem para questões específicas e urgentes, e os planos se diluem em abordagens genéricas, que poderiam ser defendidas por qualquer candidato. O dado positivo, indicado pelos analistas, é o do possível esgotamento da estratégia. O eleitor espera que os concorrentes retomem a apresentação de propostas, desde que não subestimem, com projetos evasivos, a inteligência de quem vai decidir a eleição.

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