13
de setembro de 2014 | N° 17921
CLÁUDIA
LAITANO
A hora do sim
O 11
de setembro é aquele dia do ano em que a parcela menos lunática do planeta
renova seus votos contra o fundamentalismo. Não apenas o fundamentalismo
islâmico, que resultou nos ataques a Nova York em 2001, mas todo tipo de crença
política, religiosa ou de costumes, tão fechada em si mesma e intolerante, que
mesmo a violência parece um recurso legítimo para firmar posição.
Os
atentados de 11 de Setembro foram apenas a manifestação mais grandiloquente
daquele tipo de visão de mundo que, ao longo da História, mirou diferentes
grupos de pessoas, modos de vida ou culturas: se você não é igual a mim, não
merece existir. E se, contra todos os meus esforços, você insistir em continuar
existindo, tudo aquilo em que acredito está sob ameaça.
Em
11 de setembro de 2014, acordamos com a notícia de que um CTG que iria celebrar
um casamento gay foi incendiado – e é impossível ignorar o simbolismo da data.
Os tolos incendiários de Livramento talvez acreditassem que estavam defendendo
alguma coisa – uma tradição histórica em boa parte inventada ou aquela vaga
sensação de pertencimento que parece justificar uma existência vazia de outros
significados –, mas estavam apenas admitindo o próprio desespero diante de um
mundo complexo em que parecem não encontrar lugar ou sentido.
Mesmo
quem não tolera a violência e acredita que o casamento gay é legítimo, porém,
pode estar se perguntando por que, afinal, alguém escolheria casar em um
ambiente tão conservador quanto um CTG. E a resposta é tão simples quanto os
acordes de uma milonga: porque o casamento é uma aspiração de todas as classes,
de todas as etnias, de todas as religiões, de todas as orientações sexuais.
Porque o casamento é associado com a busca da felicidade, com a realização
pessoal, com o próprio direito de ser e de existir – seja para quem casa na
cerimônia mais tradicional e abençoada, seja para quem junta os trapinhos sem
nenhuma solenidade.
Diferentes
religiões, governos ou associações de pessoas podem tentar definir quem pode e
quem não pode casar segundo suas regras, mas isso não vai impedir que esses
limites sejam forçados e, eventualmente, estendidos. Foi assim, no passado, com
os casamentos entre classes sociais diferentes, entre etnias diferentes e está
sendo assim agora com os casamentos de pessoas do mesmo sexo – já reconhecidos
em muitos países e em algumas religiões. Por que casar em um CTG? Porque o
desejo de casar não se sujeita bem a regras, nem mesmo as do tradicionalismo
gaúcho.
Quem
frequenta o CTG, porque gosta das músicas, das histórias fantasiosas sobre o
passado ou simplesmente porque é o clube mais perto da sua casa, tem o direito
de querer casar ali, se essa possibilidade é aberta. E é exatamente esse tipo
de ousadia, privada ou institucional, que produz as grandes mudanças de
costumes.
Não
é um caminho fácil nem um processo sem atropelos, mas todos sabem para que lado
o mundo está caminhando. Menos aqueles que, como os fundamentalistas em geral,
se acostumaram a olhar apenas para um lado da História: aquele que já passou.
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