quinta-feira, 11 de setembro de 2014


11 de setembro de 2014 | N° 17919
CARLOS GERBASE

400 CARACTERES A MENOS

O mundo dá voltas. O jornalismo também. Em 1980, ainda no último ano da faculdade, fui trabalhar na Folha da Tarde por indicação de meu professor de redação, Tibério Vargas Ramos. Ao lado de Nilson Mariano, hoje repórter famoso e autor de várias matérias históricas, entrei nos Cadernos Regionais, que eram comandados por Benito Giusti.

A nossa equipe ainda tinha os editores Malu e Schuch; um repórter que tinha vindo da editoria de polícia, Arzelindo Ferreira, hoje conhecido como Jimi Joe; o diagramador Suíço, homem de poucas palavras e muitos traços precisos; e, um pouco mais tarde, Mário Rocha. Por exatamente um ano, aprendi muito com eles e com Antoninho Gonzalez, secretário de redação da Folha. Nesse meio-tempo, descobri como era bom fazer filmes, e aí o repórter saiu de campo para a entrada do cineasta.

Lembrei de tudo isso por uma singela mudança na extensão desta coluna, em que retomo, mesmo que quinzenalmente, um compromisso regular com o jornalismo. Quando comecei aqui em ZH, há um ano e meio, meu texto podia ter até 2,6 mil caracteres. Agora não posso ultrapassar os 2,2 mil. São 400 caracteres a menos. Na Folha era um pouco diferente. O Benito me chamava, explicava qual era a pauta, me entregava um bloco de notas e encomendava: “12 laudas”. Para me incentivar a fazer um bom serviço, acrescentava às vezes: “A página central é tua. Assinada!”.

E eu partia na Kombi, com a tarefa de entrevistar algumas pessoas sobre assuntos candentes como uma exposição de cachorros em Taquara, ou um cano de esgoto estourado em Cachoeirinha, para depois escrever a página central dos Cadernos Regionais. Uma lauda tem aproximadamente 1,4 mil caracteres. Minhas matérias, portanto, tinham uns 17 mil caracteres. 17 mil! Hoje, quando chego neste terceiro parágrafo e passo dos 1,8 mil, já começo a pensar na frase final.

É difícil. Por culpa do Benito e da minha admiração pelas 801 páginas de A Montanha Mágica, de Thomas Mann, não tenho boa capacidade de síntese. É muito difícil dizer qualquer coisa com 2,2 mil caracteres. Por isso tenho saudade dos 400 caracteres que se foram. Sonho com eles. Tive um pesadelo em que o Benito me disse: “Hoje é meia lauda. E assinada!”.


E pronto. Acabou.

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