Do estúdio para os palanques: aumenta o número de jornalistas que tentam a carreira política
Carolina Hickmann
VINÍCIUS MORESCO/DIVULGAÇÃO/JC
O ex-apresentador de rádio André Machado tenta uma vaga como deputado federal
Partidos políticos, normalmente, cobiçam contar com comunicadores entre seus candidatos. A visibilidade gerada por sua atuação na televisão ou no rádio lhes dá a vantagem do reconhecimento prévio do povo. As eleições de 2014 no Rio Grande do Sul estão marcadas pela presença dessas figuras públicas, que concorrem a diversos cargos.
Para servir de exemplo, Ana Amélia Lemos concorre à vaga de governadora pelo PP. Lasier Martins, de senador pelo PDT. Bibo Nunes (PSD) e André Machado (PCdoB) querem virar deputados federais. Mauro Saraiva Júnior (PSDB) busca uma oportunidade como deputado estadual.
De acordo com dados do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS), o número de candidatos com ocupação de Jornalista ou Redator subiu de 13 para 17 nas eleições deste ano em relação as eleições de 2010 no Estado. No último ano de eleições presidenciais, o cargo com maior número de participantes da área foi deputado estadual, que nesta eleição caiu de 11 para nove. O cargo que teve maior aumento no número de profissionais da área foi o de deputado federal, que era de apenas um candidato e passou para seis.
Ex-apresentador da Rádio Gaúcha que concorre a uma vaga na Câmara dos Deputados, André Machado confessa que uma parte de seu público como jornalista o acompanhou na mudança e outra não se mostrou satisfeita com sua opção política escolhida. “Eles eram de uma outra linha de pensamento político que não é a que eu defendo”, explica. André já havia recebido propostas para se tornar vereador, mas, na época, viu no jornalismo uma opção mais viável. “Eu achava que não era meu momento. Agora foi feita a proposta certa, do jeito certo e no momento certo”, diz.
O candidato afirma que seu trabalho sempre esteve de alguma maneira ligado à política. Ele acredita que a mudança é “uma chance de ver o mundo de outra forma”, afirma. “Não só da visão de quem critica o que não foi feito, mas do foco de quem tem a responsabilidade ou quer ter a responsabilidade de encontrar uma solução pros problemas”, conclui.
Já o apresentador de TV Bibo Nunes (PSD), que já foi vereador por Cruz Alta, afirma que resolveu aderir à política por se considerar um cara bom e honesto. “Eu não entrei para ganhar dinheiro, eu sou um cara bem sucedido”, afirma o candidato. Ele ainda explica que estava muito decepcionado com a política, mas foram muitos os fatores que o fizeram retornar.
CAROLINA HICKMANN/JC |
Bibo Nunes pretende voltar à televisão caso seja eleito |
“O meu canal era o 55, o partido que me procurou era o 55, parece que são coisas do destino, várias coisas foram somando-se”, afirma. “Sendo assim, tive que me candidatar, perdendo financeiramente já que, além de não ter o programa, eu que vou bancar a minha campanha para não ficar comprometido com ninguém”, exclama.
Quando questionado sobre a aceitação de seu público com a mudança, Bibo contou que houve um estranhamento pela parada do programa, mas que confia em seu público nas urnas. “O meu público é um público que segue o Bibo Nunes. Não é pela minha emissora, é um público fiel a mim”, afirma Bibo.
O apresentador afirma que mantém o relacionamento com seu público através de suas redes sociais e aposta nela como plataforma de campanha. André Machado também vê na internet uma ferramenta útil, e chegou a lançar um cavalete virtual.
O candidato do PCdoB afirma que voltar a ser jornalista é uma opção, depois das eleições, ou de seu mandato. “Todo o médico que vai concorrer não deixa de ser profissional para concorrer. Eu não deixo de ser jornalista, jornalista é uma profissão, política é uma tarefa”, explica.
Bibo Nunes, por outro lado, tem tudo planejado para voltar a televisão após a campanha, mesmo que seja eleito. “Eu vou montar um estúdio em Brasília. Segunda-feira eu faço o programa aqui. Terça e quarta eu estou em Brasília, eu entro com participações ao vivo em Porto Alegre. Na quinta e sexta-feira, eu chego e apresento o programa”, conta. Ele ainda critica a necessidade dos jornalistas largarem seus ofícios para a campanha. “Eu sou um profissional de televisão. A política é função”, enfatiza.
A prática de jornalistas embarcarem na política não é novidade. Sérgio Zambiasi (PTB) foi eleito quatro vezes deputado estadual e uma vez senador. Paulo Borges (DEM), o Homem do Tempo, virou deputado estadual em 2006 – e concorre novamente neste ano.
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