10
de setembro de 2014 | N° 17918
MARTHA
MEDEIROS
Os fazedores de
besteiras
Sei
que o assunto Patricia Moreira já cansou, mas não dá pra perder a oportunidade
de olhar para o próprio umbigo e perguntar se somos tão nobres a ponto de nos
darmos o direito de atirar pedras no telhado dos outros. Fazendo uma
viagenzinha no tempo, você não consegue lembrar de nenhuma besteira já
cometida? Nunca foi idiota por um dia?
Eu
até que não fui das mais torpes, desde cedo desenvolvi um senso de justiça que
me fazia ir contra o rebanho se preciso fosse. Mas isso não me isenta de também
já ter ido a favor do rebanho, com mugido e tudo. Simplesmente porque fazer
coisas sem sentido é típico de quem ainda não reconheceu seu papel no mundo.
Fecho
os olhos e me vejo na estrada, num carro lotado de adolescentes empunhando
latinhas de cerveja. Eu era alguma espécie de delinquente? Nem perto disso. A
mais correta e ajuizada das criaturas, mas não mandava parar o carro para
descer. Eu queria seguir com eles, que hoje são respeitados advogados,
administradores, biólogos. Éramos jovens desbundados em busca de uma identidade
comum.
A
garota Patricia, símbolo do caso Aranha x Grêmio, entrou na onda furada de
xingar o goleiro do time adversário porque se sentiu segura para extravasar e
fazer bobagem sob a proteção de um grupo. Quem não? Certa vez, fui assistir a
um jogo do Grêmio contra o Corinthians, quando o craque do time paulista era
Ronaldo, o Fenômeno. Dias antes da partida, o travesti que Ronaldo levara a um
motel havia falecido. Pois bastava o atacante tocar na bola para o Olímpico
inteiro berrar: vi-ú-vo, vi-ú-vo! Eu não segui o coro, mas se houvesse uma
câmera me focalizando, me flagraria rindo. Era uma chacota.
Chamar
alguém de macaco não é chacota, e sim ofensa racista, e racismo é crime.
Patricia será penalizada juntamente com seus companheiros de imbecilidade e
nunca mais repetirá o gesto, tenho certeza, e nós, de fora, também não. Para
isso servem as penalizações: para educar, alertar, servir de exemplo. A guria,
ironicamente, agiu como macaca de auditório, termo que caiu em desuso por
motivos óbvios, e deu-se mal. Assim é. Sempre há um mártir por trás das
mudanças de comportamento.
Que
agora a Justiça tome conta do caso e basta de perseguições pessoais. A garota
não é diferente de nenhum adolescente que já dirigiu sem carteira, que fez
brincadeiras de mau gosto com gays, que praticou bullying na escola, que passou
trotes por telefone, que fez uma prova chapado, que falsificou carteirinha de
estudante, que arranhou o carro de um desafeto, que roubou a namorada do irmão.
Tudo errado, mas dentro da previsível tacanheza juvenil.
Sou
a favor de penalizar. O Brasil é este caldeirão de escândalos por causa da
impunidade. Mas pegar para Cristo é hipocrisia.
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