25 de setembro de 2014 | N° 17933
L.F. VERISSIMO
O
fim
Lembra do bug do milênio? Depois que o fim do mundo não
aconteceu como previsto no começo dos anos 2000, o Apocalipse ficou
desmoralizado. Mas pode ter havido apenas um erro nas datas da sua chegada. Das
940 quadras das profecias de Nostradamus, em apenas nove ele dá datas
específicas, e é compreensível que tenha se enganado em alguma. Na quadra 72 da
10ª centúria das profecias de Nostradamus, está escrito que “no ano de 1999 e
sete meses dos céus virá o grande rei do terror”.
O costureiro Paco Rabanne, um estudioso da obra de
Nostradamus, deduziu que o dia do grande terror, quando o mundo começaria a
acabar, seria 28 de julho de 1999. Inclusive, dizem que ele fez o que seria seu
último desfile no dia 27 e pagou todo mundo com cheques pré-datados.
Segundo Paco, o fim iniciaria com a explosão de uma estação
espacial abandonada pelos russos sobre Paris. Feitos alguns ajustes nas datas,
a previsão mantém-se perfeitamente plausível.
O que viria depois da explosão, Nostradamus não esclareceu.
Disse que o rei do terror faria ressuscitar uma grande potência do Oriente e
dela viria um anticristo que reinaria no Ocidente. Exegetas das profecias
interpretaram suas palavras como uma referência a hordas mongóis lideradas por
um Gengis Khan redivivo. Hoje, a interpretação pode ser outra: a grande
potência que ressuscita é a Rússia, e a grande ameaça que vem do Oriente é
Putin, provavelmente a cavalo e sem camisa.
Como se sabe, junto com os discos de vinil e a Wanderléa, a
Guerra Fria voltou. E a Rússia tem novos foguetes de longo alcance com
múltiplas ogivas nucleares, capazes de destruir 17 Hiroshimas ao mesmo tempo,
só um pouco menos do que os foguetes americanos. Paco Rabanne se precipitou. O
fim pode estar próximo AGORA.
Quero aproveitar a oportunidade para dizer que foi um
privilégio pertencer à Humanidade enquanto ela durou. E sei que falo pelos
bilhões e bilhões de pessoas que frequentaram este planeta desde que éramos
pré-hominídeos que não sabiam nem fazer fogo nem sexo de frente quando digo que
foi bom. Fizemos muita bobagem, é verdade – guerras, filhos demais, carros com
rabos de peixe, Brasília –, mas também fizemos coisas admiráveis.
Dois exemplos: a Catedral de Chartres e a Patricia Pillar. E
nos divertimos, é ou não é? Parabéns à Terra, que nos acolheu sem fazer
perguntas, nos deu a água e o oxigênio de que precisávamos para viver e ainda
nos proporcionou grandes crepúsculos, sem falar no cheiro de capim molhado e no
pudim de laranja. Obrigado, velha. Que venha o Apocalipse. Viva o
Internacional.
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