sábado, 6 de setembro de 2014


07 de setembro de 2014 | N° 17915
MARTHA MEDEIROS

MAGIA

Sim, vou falar de novo sobre Woody Allen, então, se você não o suporta, pode pular para a página seguinte, ou me ler com ressalvas por eu ser tão tendenciosa, ou simplesmente me dar outro voto de confiança: o filme Magia ao Luar não é extasiante e não vai concorrer ao Oscar em nenhuma categoria (figurino, talvez), e nem mesmo Colin Firth arrebata (pouco à vontade no papel, meio afetado), mas quem se importa?

Trata-se de um legítimo produto Woody Allen, que a cada novo trabalho leva para as telas as conclusões pessoais que vem colhendo no transcorrer de sua vida. Isso é o que me fascina, diferentemente do que os críticos profissionais analisam. Eu viajo para dentro da cabeça desse homem que acompanho desde que ele tinha 36 anos e eu uns 10.

Hoje Woody Allen, aquele neurótico apavorado com a morte, buscando incessantemente um sentido para a vida, cético de carteirinha, é um senhor de quase 79 anos. Se eu, com 26 menos, já abandonei alguns questionamentos irrespondíveis, imagine quem está, teoricamente, mais próximo de apagar a luz.

É natural que cultivemos milhares de indagações, mas a tendência é aceitar as simplificações que a maturidade traz - no final das contas, o que sobra de uma vida são os resultados que não buscamos, mas que aconteceram mesmo assim.

Magia. Truque. Ilusionismo. Depois de uma vida regida por planos, metas e racionalismo, o inacreditável é que ficará marcado em nossa biografia.

Durante muito tempo, Woody Allen não acreditou em nada que não pudesse explicar, mas aos poucos ele relaxou e passou a duvidar de si próprio, foi se dando alta e desfrutando de uma leveza que deixou de ser sinônimo de pequenez, mas de facilitação.

Quem é que aguenta brigar infinitamente contra si mesmo, quem é que tem fôlego para uma busca incessante por respostas que nunca serão conclusivas? Muito melhor é admitir que as respostas mudam com o tempo e que o comprometimento com nossa imagem se torna patético. Mais vale relaxar e levar a sério apenas o que se sente, porque as teorias se tornarão uma teimosia de estimação, nada além.

Eu também sempre fui muito cética, até que mudei. Virei a casaca, deixei de torcer pelo nada e resolvi torcer pelo tudo. Astrologia, anjos, telepatia, acaso, vibrações, energia: hoje respeito toda a família Imponderável da Silva. E vou além, acredito profundamente num troço chamado Amor, que não tem lógica, não tem explicação e não tem racionalidade que o justifique. Basta um sorriso para fazer a mágica funcionar.


Parece que me esqueci de falar do filme, mas o filme é sobre isso, e se não for, que Woody Allen me perdoe as elucubrações: são tantos anos de fidelidade ao seu trabalho que já me permito invadir sua alma sem permissão.

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