07 de setembro de 2014 |
N° 17915
MARTHA MEDEIROS
MAGIA
Sim, vou falar de novo sobre
Woody Allen, então, se você não o suporta, pode pular para a página seguinte,
ou me ler com ressalvas por eu ser tão tendenciosa, ou simplesmente me dar
outro voto de confiança: o filme Magia ao Luar não é extasiante e não vai
concorrer ao Oscar em nenhuma categoria (figurino, talvez), e nem mesmo Colin
Firth arrebata (pouco à vontade no papel, meio afetado), mas quem se importa?
Trata-se de um legítimo produto
Woody Allen, que a cada novo trabalho leva para as telas as conclusões pessoais
que vem colhendo no transcorrer de sua vida. Isso é o que me fascina,
diferentemente do que os críticos profissionais analisam. Eu viajo para dentro
da cabeça desse homem que acompanho desde que ele tinha 36 anos e eu uns 10.
Hoje Woody Allen, aquele
neurótico apavorado com a morte, buscando incessantemente um sentido para a
vida, cético de carteirinha, é um senhor de quase 79 anos. Se eu, com 26 menos,
já abandonei alguns questionamentos irrespondíveis, imagine quem está, teoricamente,
mais próximo de apagar a luz.
É natural que cultivemos milhares
de indagações, mas a tendência é aceitar as simplificações que a maturidade
traz - no final das contas, o que sobra de uma vida são os resultados que não
buscamos, mas que aconteceram mesmo assim.
Magia. Truque. Ilusionismo.
Depois de uma vida regida por planos, metas e racionalismo, o inacreditável é
que ficará marcado em nossa biografia.
Durante muito tempo, Woody Allen
não acreditou em nada que não pudesse explicar, mas aos poucos ele relaxou e
passou a duvidar de si próprio, foi se dando alta e desfrutando de uma leveza
que deixou de ser sinônimo de pequenez, mas de facilitação.
Quem é que aguenta brigar
infinitamente contra si mesmo, quem é que tem fôlego para uma busca incessante
por respostas que nunca serão conclusivas? Muito melhor é admitir que as
respostas mudam com o tempo e que o comprometimento com nossa imagem se torna
patético. Mais vale relaxar e levar a sério apenas o que se sente, porque as
teorias se tornarão uma teimosia de estimação, nada além.
Eu também sempre fui muito
cética, até que mudei. Virei a casaca, deixei de torcer pelo nada e resolvi
torcer pelo tudo. Astrologia, anjos, telepatia, acaso, vibrações, energia: hoje
respeito toda a família Imponderável da Silva. E vou além, acredito
profundamente num troço chamado Amor, que não tem lógica, não tem explicação e
não tem racionalidade que o justifique. Basta um sorriso para fazer a mágica
funcionar.
Parece que me esqueci de falar do
filme, mas o filme é sobre isso, e se não for, que Woody Allen me perdoe as
elucubrações: são tantos anos de fidelidade ao seu trabalho que já me permito
invadir sua alma sem permissão.
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