16
de setembro de 2014 | N° 17924
LUIZ
PAULO VASCONCELLOS
DOR DE COTOVELO
Falou
em música, é comigo. Música sinfônica, música de câmara, música convencional, música
contemporânea, óperas, MPB e jazz. Quando estou dirigindo, estou sempre ouvindo
a Rádio da Universidade. Na esteira, caminhando, ouço Maria Callas e Cecilia
Bartoli.
Venero
Elis Regina, Maria Bethânia, Gal Costa, Nara Leão e Elizete Cardoso. Caetano
Veloso, Chico Buarque e Ney Matogrosso. Bach, Mozart, Rossini, Shostakovich e
Philip Glass. Ella Fitzgerald,
Billie Holiday, Louis Armstrong, Chick Corea e Sarah Vaughan. Frequento
concertos, recitais e shows.
Não
sei ler partituras nem tocar qualquer instrumento, mas sei ouvir música. Por
isso me arrisco a escrever aqui hoje sobre um grande compositor nascido há exatos
cem anos – Lupicínio Rodrigues. E o que quero valorizar neste espaço é o poeta
Lupicínio, o uso da palavra exata na frase exata para provocar no ouvinte a
sensação exata do ritmo no verso exato.
“Eu
não sei se o que trago no peito/ É ciúme, despeito, amizade ou horror/ Eu só sei
que quando eu a vejo/ Me dá um desejo de morte ou de dor.”
“Esses
moços, pobres moços/ Ah, se soubessem o que eu sei/ Não amavam, não passavam/ Aquilo
que eu já passei.”
“Amigo,
boleia a perna/ Puxe o banco e vá sentando/ Descansa a palha na orelha/ E o
crioulo vai picando/ Enquanto a chaleira chia/ O amargo vou cevando.”
“Eles
dizem que eu bebo demais/ E que eu sou vagabundo/ Todos falam que eu sou um
perdido/ Um perdido pro mundo.”
“Para
mim/ Só existe um caminho a seguir/ É fugir de ti, é fugir/ Apesar de ser minha
vontade te seguir/ Meu dever, amor, é fugir.”
Os
temas das canções são sempre os mesmos: o amor frustrado, as desventuras
amorosas, a paixão cega, o marido traído, a dor que é carregar um par de
chifres e ainda assim continuar apaixonado. Desse entrevero resultou a expressão
que o próprio Lupicínio assumiu para definir sua música – dor de cotovelo,
consequência de permanecer horas e horas com eles fincados na mesa do bar
chorando o amor perdido.
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