10
de setembro de 2014 | N° 17918
EDITORIAL
JOGO DE
INTERESSES
Distorções
estimuladas pelo vale-tudo das campanhas desequilibram a disputa eleitoral e
desrespeitam a democracia.
A
menos de um mês das eleições, a corrida presidencial transforma-se cada vez
mais num jogo de interesses protagonizado por doadores de campanha, ativismo
sindical e militância paga, todos mobilizados para defender causas
corporativistas. O argumento de que é também assim que se faz democracia não se
sustenta.
O
que há, como prática consagrada pela maioria dos partidos, é um evidente
exagero na articulação de grupos que tentam se aproximar de algum dos lados em
disputa. O que acaba prevalecendo é o jogo de forças que desequilibra uma
disputa eleitoral em favor de quem pode mais pela imposição econômica, como
ocorre com os doadores, ou pela capacidade de expressar poder político, como é
o caso das centrais sindicais.
É
natural que a corrida provocada por uma eleição intensifique o uso de todos os
mecanismos presentes no confronto de ideias políticas. Mas não é razoável que
ações comandadas pelos que detêm alguma forma de influência acabem por
desvirtuar uma escolha que deveria ser a mais democrática possível. Um exemplo
dessa interferência é a manifestada nas atitudes de lideranças sindicais que
mobilizam quadros e recursos de entidades representativas dos trabalhadores
para fazer proselitismo político.
Não
se espera que entidades classistas devam manter neutralidade diante das grandes
questões nacionais. Mas é uma distorção do sindicalismo a adesão explícita de
dirigentes, que tentam estabelecer vínculos entre suas entidades e determinados
candidatos, com o uso de estruturas sustentadas pelos associados e por
contribuições do setor público.
Candidatos,
partidos e ideias são contaminados por atitudes que mais confundem do que
esclarecem os eleitores. Nesse sentido, é igualmente condenável a tática de
campanha, repetida a cada pleito, que se socorre da militância artificial para
povoar as ruas e criar um falso clima de entusiasmo. São frequentes no
noticiário as informações sobre os gastos milionários de partidos com empresas
que se encarregam de arregimentar militantes remunerados.
Os
cabos eleitorais de aluguel não são privilégio de determinados partidos e estão
disseminados, com as exceções de sempre, pela maioria das agremiações. São
instrumentos à mão de líderes que mantêm uma visão distorcida da democracia e
que se sustentam nos excessos das contribuições financeiras dos lobbies
empresariais, classistas e corporativos. O Brasil já se livrou de alguns
hábitos eleitoreiros nocivos, como os famigerados showmícios e parte da
propaganda de rua que poluía as cidades. Mas está longe de contemplar os
interesses que de fato importam – os dos cidadãos que ainda esperam postura
ética dos pretendentes a cargos públicos.
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