15
de setembro de 2014 | N° 17923
EDITORIAL
A SATANIZAÇÃO DO SETOR PRIVADO
Os
ataques à livre-iniciativa, como se os interesses de quem produz não
convergissem com os da sociedade, apenas confundem o debate de ideias na
campanha eleitoral.
Na
tentativa de atacar ideias e propostas dos adversários, parte da propaganda
eleitoral vem apresentando, de forma depreciativa, o que seria a representação
de executivos, empresários e banqueiros contrários aos interesses do país. São
ataques articulados pela campanha do PT, que provocam natural desconforto entre
quem empreende. O setor empresarial não é, no Brasil e em lugar algum em que
prevaleça a livre competição, inimigo da população. É uma visão não só equivocada,
mas eticamente condenável, sob qualquer aspecto, por tentar induzir ao erro de
que a iniciativa privada estaria em desacordo com demandas e expectativas da
sociedade.
Esperava-se
que tal visão estivesse há muito superada. O setor produtivo se submete, nas
democracias, às regras da competição e, se cometer desvios de conduta, é penalizado
por leis e normas reguladoras presentes em todas as atividades. Atribuir aos
empresários uma antipatia por programas sociais, como insinua a propaganda
petista, é um desserviço ao esclarecimento das propostas dos candidatos e uma
contribuição aos que apostam na confusão como tática de campanha.
É no
mínimo estranho que, em uma das propagandas, crítica à proposta do PSB para um
Banco Central independente, apareçam pessoas que seriam banqueiros sorrindo, ao
mesmo tempo em que um locutor afirma que a ideia representa uma ameaça aos
trabalhadores. Em outro comercial, sobre a controvérsia em torno do pré-sal,
executivos apertam-se as mãos, porque isso representaria corte de R$ 1,3 trilhão
da área da saúde.
Acusações
sem base na racionalidade repetem-se a cada eleição, mas não podem ser vistas
com naturalidade. Não é razoável que um partido insinue, sem contestação, que
pessoas ligadas ao setor produtivo e mesmo à área financeira tenham interesses
desconectados do contexto nacional. É óbvio que cada atividade tem suas
peculiaridades e que empreender significa almejar resultados econômicos. Se não
fosse assim, não haveria produção, emprego, renda, impostos e compartilhamento
de ganhos sociais.
A
tentativa de satanizar o lucro é tão anacrônica quanto a que, em décadas
passadas, defendia o fim da concorrência pela estatização da produção e dos
serviços. A evolução da democracia brasileira poderia dispensar esse tipo de
argumento, especialmente num momento em que o governo se esforça para acalmar
os empresários, diante da queda do nível de confiança dos setores industrial e
do comércio e da frustração de expectativas.
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