18
de setembro de 2014 | N° 17926
LUCIANO
ALABARSE
PREFIRO NÃO
A
internet e suas ferramentas, as redes sociais, abrigam hoje uma explosão de
mediocridade inacreditável. Não tenho paciência. Não quero atacar ou defender
nada nem ninguém nesse tribunal talibã. Não quero acompanhar as pérolas desse
tiroteio vulgar. Prefiro Não.
Nem
gestos nem escolhas individuais pertencem mais aos sujeitos atuantes, mas sim a
um território virtual dominado por agressividade generalizada. Não estou
referindo nenhum fato pessoal. Sou fruto de uma geração que lutou contra a
censura, de um tempo em que era permitido o direito do contraditório aos
desafetos. Donos da verdade me cansam. Sofistas me enfurecem. Prefiro Não.
Quando
trazia na mala discos proibidos de Violeta Parra ou telefonava para Punta
Rieles protestando contra a prisão de Flávia Schilling, arcava com o risco dos
meus atos. Sempre cuidei de separar a vida pessoal da exposição pública da
minha profissão. Trabalho artístico pede disponibilidade e profissionalismo.
Vida pessoal não. Privacidade ainda me soa direito conquistado, do qual não
abro mão.
Não
há nada de retrógrado em rejeitar a espetacularização destes tempos midiáticos.
Do casal de celebridades às capas sensacionalistas das revistas semanais, nada
parece escapar aos holofotes que buscam escândalo. Qualquer Zé Mané diz o que
quer, independentemente de estar ou não dizendo a verdade. Sei: muita gente boa
defende esses recursos como instrumento democrático contra manipulações
ideológicas.
Prefiro
Não. Democracia é outra coisa. Direito à informação também. Antes de lançar
calúnias no ventilador, num português sofrível, os novos Machados deveriam ler
mais. Nada como um bom livro para neutralizar a insensatez reinante. Uma dica:
À Noite Andamos em Círculos, do peruano Daniel Alarcón. De primeira.
Facebook,
Twitter, blogs e aplicativos de última geração? O Rio Grande racista e
homofóbico? O vale tudo da campanha eleitoral? Como diria o Bartleby, do Herman
Melville: Prefiro Não!
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