terça-feira, 21 de julho de 2009


CLÓVIS ROSSI

O vazio de ideias e projetos

SÃO PAULO - Paulo Cunha, o presidente do grupo Ultra, é uma das pessoas que mais e melhor pensam o país, e o faz sem buscar os holofotes, o que torna sua entrevista à Folha uma preciosidade.

Só tenho uma discordância: dizer, como o faz Cunha, que "o bafafá político tem impedido o Brasil de discutir essas questões [as relevantes]", é dizer pouco. Não é só o "bafafá" político.

É, acima de tudo, "um sistema político que não atende às necessidades do país", como também afirmou o empresário, aí sim acertadamente.

Partidos políticos são, com perdão da obviedade, o elo indispensável entre a sociedade e o poder. No Brasil, não funcionam como tal.

O PT até que tentou cumprir esse papel. Tenho em casa um livro grosso com as teses discutidas nos congressos do partido, sua instância máxima, desde a fundação até já não lembro que ano.

Havia alucinações e disparates, mas havia também uma porção de propostas sensatas -havia, enfim, um projeto de país, bom ou ruim ao gosto de cada freguês. Depois que Lula disse que tudo isso não passava de "bravatas", acabou.

Nos outros partidos, basta o exemplo da eleição de 2006: até hoje, o PSDB não conseguiu explicar que projeto de país tornava Geraldo Alckmin o candidato ideal. Obriga a supor que se tratava, antes como agora (José Serra x Aécio Neves), de mera questão de nomes.

Mas não são só os partidos. Os companheiros empresários de Paulo Cunha tampouco pensam o país, com raríssimas exceções. Na academia, o Brasil é, sim, analisado, mas de um modo isolado e fragmentado.

Não surgiu nada parecido com o Cebrap e o seu papel relevante na ditadura e na transição para a democracia.

Como a era dos caudilhos, que mobiliza o país contra ou a favor, aparentemente terminará com Lula em 2010, seria o tempo das instituições e das ideias. Onde estão?

crossi@uol.com.br

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