quarta-feira, 29 de julho de 2009



29 de julho de 2009
N° 16046 - PAULO SANT’ANA


Contigo aprendi

Lembro-me bem, fazia seis anos que minha deusa me desdenhava.

Nunca me deu um cumprimento, nunca me disse uma palavra, nunca me dedicou um só sorriso que fosse. Tinha o cuidado de não sorrir para as outras pessoas quando eu estava perto. Justiça se faça à minha deusa: ela também não sorria para os outros, para que eu não me sentisse discriminado.

Em suma, ela me desconhecia, mas não tripudiava sobre mim. Só que esta sua gélida indiferença para comigo se constituía por si só num tripúdio.

Esqueci-me de dizer aos meus leitores que minha deusa era a mais bela de todas as mulheres. Pelo menos para mim, suspeitíssimo, seus pés eram lindos (ainda permanecem belos embora decorram seis anos da primeira divina visão que dela tive). Seu sorriso de castor era o mais belo de todos os sorrisos.

Seu corpo era o tipo do corpo que gosto porque era amparado por duas pernas esbeltas, não tenho nada contra pernas femininas grossas, sei de muitos amigos que idealizam isso, mas para meu fetiche as pernas de mulheres têm de ser finas.

Pois bem, estávamos neste pé: ela durante seis anos com glacial indiferença sobre mim.

Até que ganhei coragem, apanhei-a desprevenida e falei com ela: disse-lhe o quanto a amava, atrevi-me a desafiá-la, dizendo-lhe que ela com certeza já tinha percebido nos meus olhares o amor puro que lhe dedicava, que para mim não existia mulher igual no mundo, talvez existissem muitas superiores a ela em todos os itens, só que para mim ela era a rainha.

Ela me respondeu: “E tu pensas que eu acredito nisso que estás dizendo?”.

Parecia que eu ia explodir de tanta alegria.

Por que meu extravasante contentamento? Pensem comigo, leitores. Se ela disse que não acreditava no que lhe falara, deu-me a entender que, se acreditasse, a minha chance de conquistá-la seria enorme.

Nem quis mais falar com ela, saí correndo e dando pulos de euforia.

Meu amor, minha deusa. A ela, público leitor, só faltava, para que fosse minha, acreditar no meu sonho e nas minhas promessas.

Para finalizar, quero depor a meus leitores que ainda a amo. Nunca ninguém irá superá-la nos meus devaneios.

Como no célebre bolero de Armando Manzanero, por sinal cantado por mim no Jornal do Almoço enquanto ele tocava piano, o pequenino Manzanero, o iucatano Manzanero, mas, como eu estava dizendo, o verso do divino bolero que eu aproveitaria para declarar todo o meu amor por esta minha amada é: “Y contigo aprendí/ que yo nací/ el día en que te conocí”.

Atenção leitores para o boletim médico do paciente Pablo: das nove doenças que tenho, nos últimos sete dias melhorei em quatro, piorei em quatro e a nona permaneceu estável.

Ou seja, estou como o Grêmio no Brasileirão: 50% de aproveitamento.

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