sábado, 25 de julho de 2009



26 de julho de 2009
N° 16043 - DAVID COIMBRA


Pudim de leite condensado

Cheguei a um restaurante para almoçar, sexta-feira passada, e vi que em cima do balcão das sobremesas havia uma travessa com pudim de leite condensado. Fiquei feliz. Sou um adepto ardoroso de pudins de leite condensado.

Sentei-me à mesa, cumprimentei os amigos que me esperavam e pensei: cara, depois do almoço vou comer uma boa fatia daquele pudim de leite condensado, e vai ser bem legal.

Começamos a conversar. Éramos eu, o Degô, o Professor Juninho e o Fabiano Monstro. O Fabiano Monstro tem o tamanho e a força de um urso. No verão, em Floripa, ele pegava duas mulheres na piscina, não duas mulheres pequenas, duas king size, e as levantava acima da cabeça, uma em cada mão, e as atirava para o alto, dois metros em direção ao firmamento. Elas caíam na água gritando:

– Urruuuuuuuuuuu!

Mulheres gostam de gritar urru.

Quem olha para o Fabiano Monstro, se assusta. Em vão. Ele tem um coração de avozinha. É por isso que as mulheres o chamam de... Fabi.

Foi o Fabi quem comentou, em meio ao almoço:

– Aquele pudim de leite condensado parece realmente muito bom.

Aí passamos a falar de pudim de leite condensado. Contei a velha história do meu amigo Élder Olgliari, para quem as quatro melhores coisas na vida são, pela ordem:

1. Pudim de leite condensado.

2. Gol do Grêmio.

3. O doce sabor da vingança.

4. Mulher.

Houve debate a respeito. Um, um único, disse que melhor do que pudim de leite condensado era mulher, outros que o melhor era um gol em Gre-Nal. O doce sabor da vingança não teve votos. Na mesa ao lado havia um sujeito branquicela, de cabelo amarelo e carapinhado, e com uma baita cara de padre. Estava sozinho, e percebi que prestava atenção na conversa.

Bem. Continuamos a falar a respeito das delícias do pudim de leite condensado. Aí o Professor Juninho e o Degô, mais adiantados do que eu no almoço, levantaram-se anunciando que iam buscar a sobremesa. Foram. Voltaram com luzidias porções de pudim de leite condensado. Eu já estava no fim dos meus torféis cremosos por fora e crocantes por dentro, mas parei de comer para observar como eles reagiriam ao primeiro naco de pudim de leite condensado. Levaram as colheres à boca quase ao mesmo tempo. Respiraram fundo. Sorriram, ambos.

– Hmmmmmm... – gemeram em coro, como se fossem Anonymus Gourmets.

Pisquei: – Está tão bom assim? – Melhor do que gol em Gre-Nal – testemunhou o gremista Degô.

– Muito melhor – concordou o colorado Juninho. O Fabiano se ergueu:

– Vou lá buscar um para mim! , Foi-se. Concentrei-me nos torféis. O Fabiano voltou de lá avisando:

– O pudim vai acabar!

Faltava pouco para terminar meu prato. Fui em frente nas garfadas, com afinco e denodo. Nisso, o Fabiano, degustando um pedaço cremoso de pudim, exclamou:

– Fan! Tás! Ti! Co! Melhor do que gol em Gre-Nal!

Engoli o último torfel às pressas. Mas, antes que levantasse, o sujeito da mesa ao lado arrastou sua cadeira e pôs-se a caminhar na direção das sobremesas. Deu-me uma aflição. Empurrei o prato para o meio da mesa e fui atrás. Quando cheguei às sobremesas, analisei a situação: havia arroz-doce, havia sagu com creme, havia torta de nozes, havia cheesecake, havia ambrosia, havia musse de chocolate.

E havia pudim de leite condensado. Uma última e exígua, porém aparentemente saborosa, fatia de pudim de leite condensado. O vizinho da nossa mesa posicionou-se estrategicamente diante da travessa de pudim de leite condensado, que por sua vez se encontrava no centro da mesa de sobremesas. Quer dizer: ele, e só ele naquele momento, podia escolher a sobremesa que bem entendesse, sem que ninguém pudesse fazer nada para evitar.

Ele ficou olhando para o pudim. Olhava bem para o pudim, com uma tigela na mão. Eu, com a minha tigela, olhava para ele. Tentei usar a força do pensamento positivo. Disse, de mim para mim: “Não pega o pudim, não pega o pudim, não pega o pudim!” Ele se debruçou em direção ao pudim. Senti um aperto no peito. Ia gritar:

– Não toque nesse pudim, seu desgraçado!

Mas não gritei. Fiquei na expectativa. Dei-lhe mais uma chance. Ele balançou o corpo para um lado. Para outro. Esticou o braço para a mesa. Para o pudim! Pensei em sussurrar no ouvido dele, entre dentes:

– Se tocar no pudim, morre!

Mas não sussurrei. O freio de 12 mil anos de Civilização foi mais forte em mim. Só que pela terceira vez ele fez um movimento rumo ao pudim. Estendeu o braço. Tomou a colher da travessa do pudim. Ia pegar o derradeiro pedaço de pudim! Aí não suportei. Rugi: – Gr!

Só isso. Gr! Mas ele parou. Ficou teso, com a colher suspensa no ar, expectante. Senti o medo que emanava de suas espáduas. Ele pressentiu que vivia um momento decisivo. Que algo poderia ocorrer, dependendo de sua atitude. Então, ele, devagar, bem devagar, levou a colher do pudim devolta à travessa.

Depositou-a ao lado da fatia, sem capturá-la. E, em seguida, muniu-se de um sagu vulgar. Voltei para a mesa sorridente e vitorioso. Não ia perder um pudim que valia mais do que um gol em Gre-Nal.

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