terça-feira, 28 de julho de 2009



28 de julho de 2009
N° 16045 - CLÁUDIO MORENO


Quase tive de esperar!

Na terra em que existe um poder absoluto – seja rei, sultão, marajá ou mandarim –, o tom de voz e o emprego do tempo são duas grandes diferenças entre quem manda e quem obedece.

O imperador fala baixo, e cabe ao súdito inclinar-se ainda mais para a frente, espichar o pescoço e aguçar o ouvido; dizem os manuais da corte que o súdito perfeito, então, esse nem precisa ouvir, porque adivinha a vontade de seu soberano.

A repartição do tempo, o tecido mais precioso de todos, também segue esta hierarquia natural: um rei não costuma esperar; os outros que esperem por ele.

Quanto mais esclarecido for o monarca, menos ele irá exercer esses privilégios autocráticos – e, sendo ele o paizinho do povo, mas principalmente de seus filhos, tratará de desenvolver essa veia democrática naqueles que deverão, um dia, suceder-lhe no trono.

Para educar os futuros reizinhos, existem várias histórias, fábulas e parábolas especialmente concebidas para esse fim, quase todas trazidas do Oriente, seguindo a mesma rota da seda e das especiarias.

Uma delas – o rótulo diz que vem da Pérsia, mas nunca se sabe... – conta que um príncipe, como costuma acontecer naquelas paragens, libertou um gênio da garrafa em que estivera aprisionado há milênios e, como recompensa, foi-lhe concedido pedir o que quisesse. “Quero ser poupado dos momentos desagradáveis da vida”, ele disse.

O gênio, habituado aos tolos pedidos que os humanos costumam fazer, entregou-lhe então um gordo novelo de fio de seda: “Aqui está o fio da tua vida.

Quando ela te parecer penosa ou aborrecida, basta desenrolar alguns metros, e o mau momento vai ficar para trás”. Encantado, o jovem príncipe passou a recorrer ao novelo sempre que desgostava de alguma situação ou tinha pressa de saber o que ia acontecer. Assim, em poucos meses, chegou ao fim do novelo e morreu.

O trágico final era necessário, já que a história se destinava a incutir um pouco de prudência nos jovens leitores reais. O pior é que lições desse tipo continuam sendo oportunas, pois este século 21, embora livre de monarcas verdadeiros, assiste ao nascimento de uma espantosa realeza infantil.

No universo instantâneo em que vivemos, o adulto tornou-se um simples súdito da criança imperial, vivendo para satisfazer os seus mínimos desejos – e sempre o mais rápido possível!

Com medo de contrariar seus pequenos príncipes e princesas, foge a seu dever de educá-los, esquecendo que ele próprio só aprendeu o valor (e o prazer) das coisas porque seus pais tiveram a coragem de acostumá-lo ao gosto da frustração, amargo como todo o bom remédio.

O jovem Luís XIV, ao ver que sua carruagem chegava exatamente no momento em que punha o pé no vestíbulo, exclamou, atônito: “Quase tive de esperar!”. Mas ele era rei. Ele podia.

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