quarta-feira, 15 de julho de 2009


ANTONIO DELFIM NETTO

A confusão de Áquila

DEVERIA ser evidente que, num mundo finito que abriga recursos finitos e absorve energia externa, uma espécie animal sem inimigos naturais (a não ser, eventualmente, ela mesma), devoradora daqueles recursos, acabará encontrando os seus limites.

O problema não é "se", mas "quando" isso vai ocorrer. A situação é mais urgente e mais delicada quando se internaliza o fato que é a própria necessidade da espécie que, ao aumentar o seu consumo de energia fóssil para sobreviver, produz, simultânea e inexoravelmente, um resíduo, o dióxido de carbono (CO2), que acelera a deterioração do ambiente.

Este talvez seja o principal responsável pelo efeito estufa, que tem elevado a temperatura média do planeta desde a Revolução Industrial e que, aparentemente, "explica" a mudança de clima a que estamos assistindo. O problema é que menos CO2 só com menor produção e menor consumo...

Questões dessa dimensão e complexidade exigem cuidadosos estudos científicos e, suas soluções, decisões políticas. Estas, normalmente, são oportunistas e, frequentemente, levam em pequena conta o longo prazo.

A quem interessa, por exemplo, o voto do cidadão de 2050? Basta ver o "histórico" rocambole conclusivo sobre o controle do efeito estufa a que chegaram, no dia 8, na cidade de Áquila, os estadistas ali reunidos.

Trata-se, obviamente, de um problema global e que não poderá ser resolvido por nenhum país separadamente. Todos, cinicamente, tentarão reduzir sua contribuição (ou mesmo escapar dela), mas mostrar sua clara "vontade política" de maximizá-la.

Há uma assimetria muito grave: os que no passado produziram e se beneficiaram do efeito estufa para acelerar seu desenvolvimento econômico com menor custo (destruindo suas florestas naturais, obtendo energia pelo carvão e combustíveis fósseis, reduzindo a deserto suas áreas férteis etc.) não têm como, moralmente, impor o contrário aos retardatários.

Teriam de oferecer-lhes compensações pelo aumento dos custos do seu próprio desenvolvimento ecologicamente mais limpo.

A situação é mais grave porque existe grande incerteza sobre as certezas que maníacos ambientalistas apresentam como científicas.

Por exemplo, diferentemente do que se afirma, pesquisas sérias recentes mostram que 4/5 da vegetação nativa do bioma do Pantanal está intacta e que a pecuária extensiva tradicional, praticada na região desde 1737, ajudou a construir o ecossistema com o maior índice de conservação do país! Durma-se com um barulho desses.

contatodelfimnetto@uol.com.br

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