terça-feira, 14 de julho de 2009



14 de julho de 2009
N° 16030 - PAULO SANT’ANA


Hein?

Para quem me acusa de ser delirante ou hipocondríaco, dou como testemunhas os médicos Nédio Stefen e Sérgio Moussale, que me atenderam ontem por duas horas no Centro Clínico da PUC: desde manhã cedo, perdi completamente a audição, o que deve estar prosseguindo pelo dia de hoje.

Estou surdo. Não consigo ouvir nada, nem os outros pelo telefone.

Apesar do meu pavor quando ontem despertei já surdo, quero dar um depoimento para meus leitores: na minha casa, tendo já pela manhã constatado que eu estava surdo, os meus familiares deixaram de falar comigo, ou seja, deixaram imediatamente de falar comigo.

Exatamente agora é que compreendo o ditado popular que afirma “antes ser surdo do que ouvir isso”.

O colega Marcelo Rech, depois de reunir-se com este colunista e com o nosso vice-presidente de Produto, Geraldo Corrêa, por mais de uma hora, tendo se comunicado comigo apenas por escrito, em razão da minha total surdez, saiu-se com esta: “Genial o teu truque, Sant’Ana, deste jeito só tu falas”.

Visivelmente pesaroso, depois de me constatar surdo, o colega Moisés Mendes perguntou se eu não estava escutando pelos dois ouvidos.

Minha resposta: “Só tenho dois”. Faleceu na semana passada um inesquecível amigo: Hugo Antônio Mazeron Amorim.

Os amigos vão morrendo, a gente vai ficando um pouco mais sozinho.

E cada um deles que se vai nos deixa indelével a última impressão: o caixão, o visor que permite que os pósteros vejam os traços fisionômicos do cadáver.

Um amigo, só cadáver.

Haverá maior contradição na vida do que a morte? A morte espreitando todos os dias a gente, saindo para a rua para levar alguém consigo e sempre conseguindo.

Não devia ser assim. A morte não tinha que ter o direito a essa colheita macabra, todos os dias, todos os anos, todos os séculos.

Morreu na semana passada um amigo inesquecível: Hugo Antônio Mazeron Amorim. Cena que transfigurou em assombro o Estádio Olímpico domingo passado.

O Corinthians entrava em campo para enfrentar o Grêmio e a torcida Geral, lembrando-se que três dias antes morrera em São Paulo o travesti que se envolvera com o Fenômeno, gritou em massa, milhares de vozes em uníssono: Ro/nal/do, viú/vo, Ro/nal/do, viú/vo...

Ronaldo não tocou na bola durante o jogo inteiro e o Grêmio venceu por 3 a 0.

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