quarta-feira, 29 de julho de 2009



29 de julho de 2009
N° 16046 - JOSÉ PEDRO GOULART


Twitter or not twitter?

A palavra é o pensamento subornado. Digo isso apesar de ter certeza que essa frase sequer explique verdadeiramente meu pensamento – afinal, é uma frase, contém palavras.

É que há certos sentimentos impossíveis de se traduzir. A palavra é uma tentativa vã de chegar no cume emotivo dessas sensações. E é suborno porque gratifica com a ideia de que tal tradução é possível. Falo aqui de pensamentos abstratos.

Há outras linguagens. A música, a pintura, a expressão corporal. São decodificações do nosso ser profundo – esse a que estou me referindo nesse texto. Essas expressões auditivas/visuais talvez sejam mais fiéis a um sentimento original, e por conta disso são mais limitadas e passíveis de interpretações distintas.

Entretanto a palavra vem ganhando o jogo de goleada. Raciocinamos e interpretamos com palavras. Usamos o vocabulário para tudo, e a tudo queremos conceituar. O jogo jogado na vida é um jogo de palavras.

A invenção do ser humano vem junto com a invenção da palavra; e junto com ela uma permanente necessidade de reinvenção. Harold Bloom, por exemplo, garante que foi Shakespeare (com palavras) quem inventou o homem tal qual ele é.

Antes dele, diz Bloom, os personagens literários eram praticamente imutáveis. “Em Shakespeare, os personagens não se revelam, mas se desenvolvem, e o fazem porque têm a capacidade de se autocriarem.”

É de Shakespeare o conceito absoluto da existência: “Ser ou não ser, eis a questão.” Frases assim funcionam como boias jogadas num mar de inconsciência. Porém, os tempos atuais necessitam uma revisão. Existir somente não basta, é preciso se exprimir. E mais, alguém precisa ouvir: é a garantia de que existimos.

A resposta veio com a internet, sobretudo num fluxo de expressão antes inimaginável. Alguns se incomodam com isso, especialmente os que detinham exclusividade da expressão. Ou seja, os que existiam não estão gostando de ter que dividir a existência.

Reclamam da vulgarização, da proliferação dos não habilitados. Enquanto isso e sem dar a mínima os excluídos se aproveitam da recente inclusão e se esfalfam em opiniões, mensagens e conclusões. A palavra virou barata – não como adjetivo, mas como substantivo mesmo – e se multiplica.

Mas insisto, somente se exprimir não basta. É preciso eco. É preciso que alguém esteja ouvindo, se não, não tem graça. Exemplo da hora? Twitter: 140 caracteres, uma fotinho, quem você segue, quem segue você. A propósito, @ZPgoulart.

Well meus leitores eu também estou aí no Twitter. Podem seguir-me sim todos os dias e todas as noites. @cassiano_leonel ou @entrelacos - Aliás tem até link ali na esquerda para vocês follow-me

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