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sábado, 11 de julho de 2009
12 de julho de 2009
N° 16028 - MOACYR SCLIAR
Dá para votar no Mateus?
Políticos brasileiros estão sendo acusados de nepotismo, de arranjar cargos públicos, ou negócios com o serviço público, para familiares e amigos. A reação de muitos deles é de perplexidade, magoada perplexidade: Sempre foi assim no Brasil, agora estão querendo me culpar por fazer o que outros fizeram?.
Uma pergunta que não se justifica, mas que se explica. De fato, o nepotismo brasileiro tem raízes históricas profundas. Baseia-se no modelo que, numa certa fase, norteou a colonização lusa aqui: o modelo das capitanias hereditárias.
Alguém recebia, da coroa portuguesa, uma enorme extensão de terra, que administraria como se fosse dono. O equivalente da capitania hereditária, hoje, é o mandato parlamentar, a chefia de um órgão, a presidência de uma empresa pública. E, na hora de escolher colaboradores, na hora de distribuir os cargos, a regra é dada por um provérbio também de origem lusitana: “Mateus, primeiro os teus”.
Por que Mateus? Provavelmente o nome foi escolhido porque rima com “os teus”. Quanto à frase, pode ser cínica, mas certamente, e ao menos até agora, era realista. Se Mateus tinha poder, deveria primeiramente pensar nos parentes e amigos. Mesmo porque a sentença parecia justa para aqueles que a formularam ou que a repetiam.
Notem que “Mateus, primeiro os teus” não é “Mateus, só os teus”. A primeira sentença, além de mais eufônica, é mais razoável; os outros não estão sendo excluídos, só estão sendo colocados mais abaixo na lista de prioridades.
Se possível, serão atendidos, diferentemente dos parentes e amigos, que devem ser atendidos, custe o que custar (e atualmente o custo, como estamos vendo, pode ser muito alto).
Dá para duvidar de que, se certos políticos pudessem fazê-lo, arranjariam cargos públicos? E se um cara se candidatasse anunciando “Vote em mim e ganhe um cargo público”, alguém duvida de que ele seria eleito? O nepotismo não é só um fenômeno político.
E nem é um costume exclusivamente brasileiro. Que o digam as monarquias europeias, por exemplo. Ou então as famílias (ou clãs) que, nos Estados Unidos, fazem política: os Kennedy, os Bush. Aliás, foi nos Estados Unidos que apareceu, em 2003, um livro defendendo o nepotismo. Chama-se In Praise of Nepotism (O Elogio do Nepotismo), de autoria do jornalista Adam Bellow, para quem Mateus não é uma exceção: todas as espécies tendem a proteger as crias.
É algo constitutivo da natureza humana, está em nosso genoma. Tudo que temos de fazer, diz Bellow, é combinar nepotismo com a meritocracia. Favorecer, mas favorecer aqueles que têm um mínimo de condições (detalhe interessante: Bellow é filho de ninguém menos que o escritor Saul Bellow, Nobel de literatura. “Ser filho dele ajudou muito”, confessa o jornalista).
Tudo indica que o Brasil cansou disso. O Brasil mudou. Se perguntarmos hoje aos brasileiros “Quem deve ocupar um determinado cargo público?”, a resposta será: a pessoa mais adequada para o cargo, selecionada mediante critérios claros, democráticos. É bom que o Mateus pense nisso, se ele resolver se candidatar.
O José Diogo Cyrillo da Silva comenta o caso de Bernard Madoff, fraudulento financista americano condenado a 150 anos de prisão. Ele compara com o que acontece no Brasil e diz: “A diferença é a forma como as delinquências são tratadas. Aqui, leniência, para dizer o menos, quanto aos delitos contra a ordem financeira. Lá, a confirmação de que a lei foi feita para todos”.
A Eny Toschi, do Instituto Chega de Violência, fala sobre o projeto Prevenção de Assaltos de Rua, desenvolvido em março e abril deste ano e que terá continuidade com outros projetos, propondo a integração entre comunidade e o Ministério Público, comunidade e a Guarda Municipal (para revitalização de praças e parques), e projeto aperfeiçoando a educação como recurso contra a violência.
Agradeço também as mensagens de Fátima Torri, de Wladimir Santos e de Felipe Daiello, que acaba de lançar o livro Palavras ao Vento.
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