quinta-feira, 16 de julho de 2009



16 de julho de 2009
N° 16032 - EDITORIAIS


IMAGEM DESCONCERTANTE

Impressa ontem na capa dos principais jornais do país e amplamente divulgada pelos veículos eletrônicos, a imagem do abraço entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o senador alagoano Fernando Collor de Mello, compartilhando o mesmo palanque, deixou muitos brasileiros perplexos.

Quem acompanhou o acirrado confronto eleitoral entre os dois em 1989 e a decisiva participação do PT na campanha pelo impeachment do ex-presidente em 1992 tem dificuldade para entender esta aliança entre passados tão divergentes.

Para desencanto do eleitor, ela parece simbolizar a nova era dos conchavos na política nacional. Em nome de um pragmatismo que beira a incoerência, Lula prestigia Collor, pré-candidato ao governo de Alagoas, elogia Renan Calheiros, seu antigo opositor, e chancela os desmandos do presidente do Senado José Sarney.

Compreende-se que um governo faça acordos políticos para garantir a governabilidade ou até mesmo para assegurar apoio eleitoral, como é declaradamente a intenção do presidente Lula no seu projeto sucessório. Nada disso é novidade.

Todas as democracias possibilitam coligações partidárias, desde que os conflitos ideológicos e programáticos não sejam insuperáveis. O difícil de aceitar é tanta flexibilidade ética num momento em que a classe política, com raras exceções, enfrenta o descrédito geral.

O ex-presidente Fernando Collor foi obrigado a renunciar em virtude do seu envolvimento com um esquema de corrupção combatido enfaticamente pelo Partido dos Trabalhadores, na época comandado pelo presidente Lula.

Cabe reconhecer, evidentemente, que o mandatário deposto já cumpriu as sanções legais, observou o período de inelegibilidade e voltou à cena política pela decisão inquestionável dos eleitores.

Só que isso não apaga da memória dos brasileiros a decepção causada pelo governante que inaugurou o novo período de eleições diretas para a presidência da República, interrompido durante o regime autoritário dos militares que ocuparam o poder em 1964.

Collor elegeu-se com promessas de desenvolvimento, modernidade e moralização, mas cercou-se de aproveitadores, loteou o governo e promoveu uma traumática intervenção na economia, bloqueando a caderneta de poupança. Saiu sem deixar saudades.

Por isso é preocupante esta aliança de ocasião, que revela também uma grande incoerência por parte do primeiro mandatário da nação. No mesmo palanque em que condenou o que chama de “política de compadrio”, o presidente Lula elogiou os senadores Renan Calheiros e Fernando Collor por darem sustentação ao seu governo no Parlamento.

Os interesses por trás desta espúria proximidade são claros: Lula quer o apoio do PMDB e do PTB à candidatura da ministra Dilma Roussef, e Collor conta com o respaldo de Lula para reconquistar o governo de Alagoas.

Diante de tais maquinações, não é de admirar que o eleitor brasileiro se mostre a cada dia mais desencantado com seus representantes políticos.

Uma excelente quinta-feira especialmente para você - Apenas mais dois diazinhos para as férias de inverno....

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